luta socialista

Hugo Motta afirma que não há clima na Câmara para anistia ampla aos responsáveis pelo 8 de janeiro

Hugo Motta disse o óbvio que muitos da direita fingem não enxergar: não existe clima na Câmara para conceder uma anistia “ampla, geral e irrestrita” aos responsáveis pelas ações golpistas de 8 de janeiro. As imagens dos aliados de Jair Bolsonaro ocupando plenários e exigindo perdão foram um recado claro — e também uma tentativa deslavada de impunidade. Não podemos permitir que aquele motim seja naturalizado como “questão política”: trata-se de tentativa de golpe, com responsabilidades criminais que pedem apuração, julgamento e punição. Impunidade para quem atacou a democracia não é anistia, é convite para novos ataques.

O recuo calculado de Hugo Motta

Motta, presidente da Câmara pelo Republicanos, tentou colocar uma barreira entre o espetáculo bolsonarista e a institucionalidade: “Um projeto auxiliar começou a ser discutido ainda no semestre passado, que não seria uma anistia ampla, geral e irrestrita.” — Hugo Motta. Na entrevista à GloboNews, ele foi contundente ao dizer que não enxerga ambiente para anistiar quem “planejou matar pessoas”. “Eu não vejo dentro da Casa um ambiente para, por exemplo, anistiar quem planejou matar pessoas, não acho que tenha esse ambiente dentro da Casa.” — Hugo Motta.

Claro que o discurso tem intenção política: Motta tenta desarmar a ofensiva da extrema direita sem rasgar com a base conservadora. Mas há também um ponto prático: a preocupação real com aqueles que receberam penas altas pela cumulatividade — militantes de rua que não tiveram papel central, mas que viram penas multiplicadas. Motta sinaliza abertura para “revisão” e progressão de regime para esses casos, o que para muitos é uma porta estreita entre justiça e concessões. Não podemos confundir justiça seletiva com condescendência com o crime político.

Os números do STF ajudam a dimensionar a situação: de mais de 1,4 mil envolvidos nas ações de 8 de janeiro, 141 permanecem presos e 44 estão em prisão domiciliar. Ou seja: há casos a serem avaliados, mas também há responsabilidades claras para quem liderou, financiou e instigou a violência.

Eduardo Bolsonaro: realpolitik ou escárnio?

A situação do deputado Eduardo Bolsonaro virou caso de caricatura: pediu licença para morar nos Estados Unidos, não voltou quando o prazo terminou, afirma que não abre mão do mandato e ainda endossa sanções contra o próprio país. Motta não poupou palavras ao demonstrar “discordância” com ações que prejudicam empresas e a economia. “Quando parte para uma atuação contra o país que prejudica empresas e a economia, eu não acho razoável […] realmente nós temos total discordância.” — Hugo Motta.

E mais: segundo Motta, a própria direita e até membros do PL não aprovam muitas atitudes de Eduardo, por serem “questões indefensáveis”. “Isso é uma coisa que não podemos permitir. Eu quero aqui registrar a nossa completa discordância com essas atitudes porque penso que são atitudes que trazem prejuízos consideráveis para pessoas, empresas e para a economia do país que não deveria estar sendo colocadas em discussão.” — Hugo Motta. Tradução livre: donos do conservadorismo tentam salvar a imagem institucional enquanto a ala bolsonarista promove teatro de desconstrução do Estado.

Motta ainda propôs diálogo com o presidente Lula e com o STF para montar um “projeto alternativo” que não seja anistia, e enfatizou que ninguém quer tratar o tema “na calada da noite”. “Ninguém quer fazer nada na calada da noite, de forma atropelada. O que aconteceu no 8 de janeiro foi muito grave e isso precisa ficar registrado…” — Hugo Motta.

A realidade é clara: a direita quer anistia para limpar sua barra e continuar a investir no ódio como instrumento político; Lula e o PT têm a responsabilidade histórica de transformar esse episódio em uma lição e numa etapa de organização popular que avance para além do eleitoral. A tarefa não é simples: envolve garantir responsabilização, proteger instituições públicas, derrotar as narrativas da extrema direita e construir políticas que revertam a miséria que alimenta o autoritarismo. Se deixarmos a questão legal virar moeda de troca, estamos abrindo espaço para o retrocesso. Qual é o projeto que queremos para o Brasil — justiça e fortalecimento do Estado, ou impunidade para os que tentaram destruí-lo?

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