luta socialista

IR ganha alívio: quem recebe até R$ 7.350 terá desconto, mas alto escalão segue protegido

A proposta do governo Lula de isentar do Imposto de Renda quem ganha até R$ 5 mil por mês acende debates imprescindíveis: é uma medida redistributiva tímida ou um truque eleitoral para o ano de 2026? Enquanto parte da população celebra um alívio no contracheque, a discussão real que precisamos ter é outra: quem de fato pagará a conta? E por que o esforço em não tocar seriamente nos rendimentos do topo da pirâmide? Chega de discursos mornos — a direita que privatiza e protege bilionários que paguem pela mudança estrutural!

“É quase um salário a mais [por ano]. Só que, daí por diante, por conta da progressividade do IR, os ganhos vão diminuindo até R$ 7.350. Acima disso, não há mudança. Quem ganha R$ 4 mil, vai ter pouco mais de 1/3 de ganho [37% do salário a mais por ano]”. — Welinton Mota, diretor tributário da Confirp Contabilidade

R$ 312,89 a menos por mês para quem ganha R$ 5 mil — esse é o efeito estimado por especialistas na prática imediata: trabalhador com carteira assinada que recebe R$ 5 mil terá alívio de cerca de R$ 313 por mês, ou pouco mais de R$ 4 mil por ano com o 13º incluído. São números que importam na mesa da família, claro. Mas não se enganem: essa medida beneficia majoritariamente a chamada classe média e média alta, não os mais pobres.

Entenda o projeto

O texto em tramitação amplia a faixa de isenção de R$ 3.036 para R$ 5.000 mensais a partir de 2026, com uma isenção parcial decrescente entre R$ 5 mil e R$ 7 mil (ou R$ 7.350, conforme relator). O governo diz que vai compensar a perda de arrecadação taxando “super-ricos” com renda acima de R$ 50 mil por mês — medida que soa justa, mas que, nos termos apresentados, parece feita com luvas: há limites à cobrança sobre dividendos e lucros, e alíquotas mínimas que deixariam folga para o grande capital.

“Do ponto de vista da tributação da renda, infelizmente temos um quadro muito dramático… o morador da cobertura, não paga condomínio e o zelador está pagando o condomínio do mesmo prédio. Essa é a verdade sobre o Brasil, é a realidade do Brasil”. — Fernando Haddad, ministro da Fazenda

A matemática política também é evidente: se aprovada, cerca de 10 milhões de contribuintes deixariam de pagar IR em 2026 — exatamente um ano eleitoral. O Ministério da Fazenda estima que mais de 26 milhões de declarantes (65%) seriam isentos. Pergunta óbvia: isso é justiça social ou estratégia eleitoral? O governo nega arremedo eleitoral.

“Foi uma ‘fórmula muito bem pensada'”. — Marcos Pinto, secretário de Reformas Econômicas do Ministério da Fazenda

“No Brasil, quem ganha mais de R$ 6 mil por mês está entre os 10% mais ricos… Quando a gente aumenta a faixa de isenção no IR para até R$ 5 mil, a gente não está beneficiando os mais pobres. A gente está beneficiando classe média, classe média alta.” — Bráulio Borges, pesquisador associado do FGV Ibre

Organizações da sociedade civil pedem ambição: Inesc e Oxfam, entre outras, reconhecem avanços, mas lembram que isso é apenas um começo. “Reconhecemos que a proposta atual traz avanços concretos e caminha, ainda que de forma tímida, na direção correta. No entanto, ela está longe de ser suficiente…” — coalizão pela reforma tributária (Inesc e Oxfam Brasil)

“É um grande erro insistir em regimes que isentam lucros e dividendos; temos de nos alinhar com práticas internacionais para garantir justiça social.” — Sérgio Gobetti, economista do IPEA

Não basta aliviar contracheque — é preciso enfrentar o topo. Tributar lucros, dividendos e renda extraordinária com vigor permitiria reduzir impostos regressivos sobre o consumo, aliviar quem ganha menos e financiar serviços públicos e estatais que essa direita entreguista quer desmontar. Capital deve pagar sua parte: ponto final.

Se o PT e Lula querem transformar essa janela em começo de um novo ciclo de avanços sociais, é hora de aprofundar a reforma tributária, atacar privilégios fiscais e acabar com o leque de benefícios que mantém os bilionários intocados. Não aceitamos meias medidas que maquiam desigualdades; queremos um sistema verdadeiramente progressivo, que invista em saúde, educação e estatais robustas, e que desmonte politicamente quem quer privatizar e enriquecer às custas do povo. Quem monta a ofensiva contra os ricos e seus lacaios? Vamos à luta!

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