A Polícia Federal deu mais um choque na narrativa de impunidade dos bolsonaristas: Jair Bolsonaro e seu filho Eduardo foram indiciados por coação no processo penal da trama golpista, enquanto o pastor Silas Malafaia teve o passaporte e o celular apreendidos ao desembarcar no Brasil. Não é um episódio isolado: é a ponta do novelo que começa a desenrolar a teia de pressões, ameaças e tentativas de obstrução montada para blindar o ex-presidente. Quem achava que a política se resolve só no voto, acordou tarde — e o barulho veio da própria polícia federal!
O relatório e a operação
Segundo o relatório da PF, foram reunidos áudios e mensagens que mostram um esforço coordenado para forçar ministros do Supremo a suspender a ação penal contra Bolsonaro. Entre as provas, há um documento que, segundo a investigação, evidencia que o ex-presidente cogitou pedir asilo ao governo argentino de Javier Milei — ideia que revela o desespero daquela turma quando a lei começa a bater à porta. A investigação aponta ainda que Malafaia instigou Bolsonaro a descumprir ordens do ministro Alexandre de Moraes; a PF entendeu haver risco concreto de obstrução e de fuga, o que levou Moraes a dar 48 horas para Bolsonaro explicar essa hipótese de asilo.
A ação da PF foi cirúrgica: agentes abordaram Malafaia assim que ele desceu do avião. Foram apreendidos o telefone e o passaporte — instrumentos que, para a investigação, podem conter o mapa das comunicações e combinações que buscaram garantir impunidade. Os áudios e mensagens juntados ao processo revelam o padrão: pressão sobre autoridades, panos quentes para aliados e buscas por rotas de escape.
“Vai ter que me prender para me calar”, disse Silas Malafaia ao ser alvo da operação — frase que expõe, com sua agressividade típica, a disposição de quem se vê acuado. E não é só o pastor que perde as estribeiras: em um momento de intimidade vazada, “INGRATO DO C…” — foi assim que Eduardo xingou o próprio pai, depois de ser chamado de imaturo. Imagens e mensagens que deveriam ser apenas embaraços pessoais, aqui se transformam em evidência judicial de um conluio político.
Entre os trechos apreendidos, chamou atenção a mensagem em que Eduardo alerta Bolsonaro sobre o risco de que Trump “vira as costas” — uma admissão nada sutil de que a rede de proteção internacional que imaginavam era frágil e dependente de atores de fora. Essa confissão, tratada pelos investigadores como parte do quadro probatório, reforça o argumento de que havia um plano para buscar alternativas fora do país, se necessário.
O que isso tudo mostra? Primeiro: a direita radical não é um amontoado de ideias, é uma máquina de poder que usa pastores, filhos de políticos, milícias digitais e outros operadores para se proteger. Segundo: quando a lei começa a avançar, esses grupos reagem com violência retórica e tentativas de fuga. E terceiro: a democracia brasileira ganhou uma chance preciosa de expor esses mecanismos ao escrutínio público e judicial.
Como jornalista e militante socialista, não posso deixar de lembrar: derrotar o bolsonarismo não é apenas remover um governo — é desmontar suas redes de poder, seus financiadores, suas alianças com o grande capital e o fundamentalismo que inspiram essas ações. Lula e o PT, por mais que sejam alvo de críticas legítimas, hoje aparecem como peças centrais para articular uma resposta institucional e social a essa ofensiva autoritária. A hora é de vigilância, mobilização popular e apoio às investigações que buscam aplicar a lei a quem sempre acreditou estar acima dela.
A operação da PF e o indiciamento são passos importantes, mas não garantem a derrota final do bolsonarismo — essa será conquistada na política, na organização dos trabalhadores e na disputa ideológica. Preparem-se: a direita fará barulho, vai gritar, vai tentar desviar o foco. Nossa resposta? Persistir na denúncia, fortalecer a unidade democrática e empurrar a luta para onde ela realmente precisa ser vencida: nas ruas, nos sindicatos, nas universidades e nas urnas. Quem quer enterrar a única alternativa popular ao projeto neoliberal tem pressa — nós, no entanto, temos estratégia e resistência.