O jantar de braço dado entre caciques da direita em Brasília revelou, mais uma vez, a cara do Brasil que eles sonham: alianças fechadas à mesa para proteger interesses poderosos e ajustar contas políticas enquanto a população segue pagando a conta. A reunião promovida pelo presidente do União Brasil, Antonio Rueda, nesta terça (19), contou com a presença de governadores e dirigentes partidários que estão costurando a federação União Brasil–PP e afinando a estratégia eleitoral para 2026 — tudo ao som da prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro e da incerteza que assombra o campo conservador.
Jantar da direita em Brasília
Estarão presentes nomes como Ricardo Nunes (MDB), prefeito de São Paulo, e Álvaro Damião (União Brasil), prefeito de Belo Horizonte — os únicos dois chefes de Executivo municipal convidados, segundo a organização. Além de Rueda e do senador Ciro Nogueira (presidente do PP), constam na lista Tarcísio de Freitas (Republicanos), Ronaldo Caiado (União), Romeu Zema (Novo), Ibaneis Rocha (MDB), Eduardo Riedel (PP) e Mauro Mendes (União). Cláudio Castro (PL) é esperado; Ratinho Junior (PSD) e Eduardo Leite (PSD) optaram por não comparecer.
O objetivo declarado é discutir as eleições de 2026 e formalizar entendimentos eleitorais — leia-se: combinar quem fica com o quê e como repartir o aparelho do Estado entre correligionários. Encontro é a prova de que a direita segue costurando alianças para salvar seus privilégios. O cenário é de ansiedade: com Bolsonaro em prisão domiciliar, a direita busca rapidamente um novo roteiro para manter sua influência nas esferas federal e estaduais.
O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, justificou sua ida como um “gesto de gratidão” pelo apoio recebido na eleição do ano passado e declarou que pretende tratar da PEC que institui limite para o pagamento de precatórios pelos municípios. “A viagem também será um ‘gesto de gratidão’ pelo apoio nas eleições do ano passado,” disse o prefeito Ricardo Nunes (MDB). Quanto à possibilidade de disputar o governo de São Paulo em 2026, Nunes cortou a especulação: “Não tenho este desejo e o foco é concluir o mandato,” afirmou o prefeito Ricardo Nunes (MDB).
Pequenos gestos, grandes acordos. A presença de nomes como Ciro Nogueira e outros governadores mostra que não se trata de um jantar inofensivo — é costura política com potencial para impactar políticas públicas, privatizações e o futuro de programas sociais. Não vamos permitir que privatizações e ajustes austeros sejam apresentados como ‘gestos de gratidão’.
Enquanto isso, as tensões internas na direita não param. No domingo (17), o vereador Carlos Bolsonaro soltou os cachorros — sem citar nomes, chamou alguns governadores de “ratos” que estariam prontos a “herdar o espólio de Bolsonaro”. “Se comportam como ratos”, disse o vereador carioca Carlos Bolsonaro (PL). “Só querem ‘herdar o espólio de Bolsonaro’ e ‘não há como não sentir indignação diante desses sujeitos’.” Poético, não? Um lado da direita acusando o outro de traição — cenário perfeito para a direita se fragmentar ainda mais.
Do ponto de vista do povo, esses encontros de elites significam centralização de poder e decisões que favorecem interesses privados. Governadores já se reuniram nos últimos dias com investidores e empresários, e nove mandatários estiveram na casa do governador do Distrito Federal em 7 de agosto, no mesmo dia em que entrou em vigor um tarifaço imposto pelos Estados. As prioridades ficam claras: mercado e acordos políticos; serviços públicos e vida das pessoas ficam em segundo plano.
Para nós, que militamos por uma alternativa popular e anticapitalista, a saída é dupla: desmantelar politicamente essa direita que quer comandar a liquidação do patrimônio público e fortalecer um projeto coletivo capaz de recuperar o Estado para os interesses da maioria. Lula e o PT têm papel central nesse momento não apenas como opção eleitoral, mas como agentes de uma nova etapa de luta social e de recomposição das estatais e das políticas públicas. Precisamos responder nas ruas, nos locais de trabalho e nas urnas: não aceitaremos que o Brasil seja entregue de bandeja aos mesmos que enriqueceram com privatizações e jogaram a conta da crise sobre os trabalhadores.
O jantar de Brasília é um alerta — e um chamado à organização. Se eles se reúnem em sigilo para dividir espaços de poder, nossa tarefa é construir uma frente ampla que defenda direitos, estatais e democracia, e que ponha fim ao projeto privatista e autoritário que a direita tenta reciclar. Quem dirá: a mesa deles pode até ficar elegante, mas a rua é nossa sala de jantar!