Às vésperas do julgamento no Supremo Tribunal Federal, o roteiro é de cinema ruim: um ex-presidente enrolado em prisão domiciliar, generais e ministros exonerados que fazem cara de paisagem e advogados que recomendam silêncio e ausência como estratégia de defesa. Serão julgados Jair Bolsonaro e mais sete réus apontados como o “núcleo crucial” da trama que tentou manter no poder quem foi derrotado nas urnas de 2022. A maioria deles, porém, deve assistir ao processo pela televisão — ou pela tela do celular — enquanto suas defesas ocupam fisicamente o espaço no plenário. Não por vergonha, mas por prudência. Ou por medo? Quem resolve isso é o Supremo. E, no caso de Bolsonaro, há ainda o detalhe burocrático que humilha: para colocar os pés no STF ele precisa pedir autorização ao ministro Alexandre de Moraes.
O julgamento e quem deve comparecer
A Primeira Turma do STF reservou cinco dias e oito sessões — o suficiente para desmontar peça por peça a farsa golpista, se as provas da Procuradoria-Geral da República forem consideradas. O processo vai de 2 de setembro até 12 de setembro, e promete ser peça-chave não só para responsabilizar os autores do plano antidemocrático, mas para mostrar até onde a extrema-direita está disposta a ir para evitar a derrota nas urnas.
A PGR sustenta que esse núcleo liderou uma organização criminosa para manter Bolsonaro no poder mesmo após a derrota em 2022. Todos os réus negam envolvimento e pedem a rejeição da acusação por falta de provas — eis o discurso que já virou trilha sonora de quem tentou transformar o país num laboratório autoritário. Não existe obrigação legal de comparecimento: há quem, inclusive, tenha aconselhado os réus a não irem para evitar exposição.
Entre os que não devem ir presencialmente estão Mauro Cid (tenente-coronel e delator), Almir Garnier (ex-comandante da Marinha), Anderson Torres (ex-ministro da Justiça) e Augusto Heleno (ex-ministro do GSI). O general Braga Netto está preso no Rio por tentativas de atrapalhar investigações e também deve acompanhar pela tela. Já o general Paulo Sérgio Nogueira pode aparecer em alguma sessão — porque nada como um uniforme para posar de respeitabilidade — e ainda não há definição sobre Alexandre Ramagem, ex-diretor da Abin.
O significado político do julgamento
Este julgamento não é apenas sobre presenças ou ausências no plenário; é sobre a própria ideia de que a lei vale para todos, inclusive para quem tentou desmontar a democracia. Para nós, que militamos por um projeto popular e que vemos no bolsonarismo a face mais reacionária e entreguista do grande capital, essa audiência tem um significado maior: é um momento para bater na narrativa da impunidade e mostrar que tentar ferrar o país para salvar privilégios não sai de graça.
E olhem só: enquanto a direita se esconde entre conselhos de advogados e encenações de força, o campo democrático — onde o PT e Lula ocupam papel central — precisa transformar essa vitória judicial em impulso político. Não se trata de esperar só pelo STF; é hora de articular uma resposta popular que defenda as estatais, vete privatizações e ponha fim ao poder dos bilionários que financiaram e se beneficiaram do bolsonarismo. Lula e o PT, para além de serem alternativa eleitoral, podem e devem ser agentes centrais de uma nova etapa de luta anticapitalista no Brasil!
O espetáculo do julgamento também será testamento: a direita insiste em apostar no espetáculo e na desinformação; nós, do lado de cá, precisamos apostar na organização, na mobilização e no Estado democrático de direito — estadual, federal, e sim, nas estatais que são patrimônio do povo. Se o processo confirmar os crimes, que venha a condenação; se não, que sirva ao menos para expor politicamente os autores da conjura.
O calendário está marcado. As cadeiras do plenário esperam, e as televisões também. Vamos assistir, vigiar e lutar: não basta que juízes decidam, a história pede que a sociedade não se omita. Quem quer enterrar a democracia teve grande temporada — agora é hora de enterrar o bolsonarismo político e reconstruir o Brasil com soberania, serviço público e justiça social.