A deputada licenciada Carla Zambelli (PL-SP) teve sua prisão mantida pela Justiça italiana nesta sexta-feira (1º) e segue detida no presídio de Rebibbia, nos arredores de Roma. A Quarta Seção do Tribunal de Roma negou o pedido de liberdade e decidiu que ela permanecerá atrás das grades enquanto aguarda o processo de extradição. O Brasil já formalizou solicitação para trazê-la de volta, mas agora depende da tramitação em dois tribunais italianos e do aval final do ministro da Justiça local.
“Confiamos na Justiça italiana”, afirmou o embaixador brasileiro no país, Renato Mosca. A declaração ecoa a velha narrativa de boa convivência entre governos, enquanto, paralelamente, o bolsonarismo insiste em transformar a deputada em mártir politiqueira. Zambelli está foragida da Justiça brasileira desde o final de maio, quando, dias depois da condenação unânime pela Primeira Turma do STF, decidiu cruzar fronteiras em fuga digna de novela rocambolesca. Passou pela Argentina, deu um pulo na Flórida e finalmente se refugiou em solo italiano, achando que ia driblar a força-tarefa da Interpol.
Dos mandados à cadeia: a trajetória da fuga
A deputada carrega, no currículo, uma sentença de 10 anos de prisão e perda de mandato pela invasão hacker ao sistema do Conselho Nacional de Justiça em janeiro de 2023. O processo transitou em julgado – ou seja, não há mais regrinhas jurídicas que permitam recursos. Quando soube da condenação, Zambelli disse: “Eu não sobreviveria na prisão”. Ironia ou previsibilidade de quem bate panela e grita por liberdade… desde que não valha para si mesma.
Preso por molecagem criminosa, como definiu o então diretor-geral da Polícia Federal, ela tentou justificar sua permanência na Itália alegando suposta perseguição política. Mas a Interpol, impassível, a encontrou em um apartamento na capital romana. “Ela se entregou espontaneamente”, disse o advogado Fábio Pagnozzi. Contrariando registros policiais, segundo os quais a polícia fez cerco ao prédio, Zambelli aguardava pintando as paredes e lavando o cabelo quando foi detida. Após escolher seus remédios, embarcou rumo à delegacia.
O longo caminho da extradição
Pela lei italiana, o processo de extradição é demorado: passará pela Corte de Apelação e depois pela Corte de Cassação. Se ambos os juízes derem parecer favorável, o destino da parlamentar caberá ao ministro da Justiça, em decisão que mistura elementos jurídicos e apelos políticos. Autoridades brasileiras calculam que tudo leve de um ano e meio a dois anos até um desfecho definitivo.
Enquanto isso, Zambelli gasta recursos públicos com advogados lá fora, faz vídeo-chamadas dramáticas para alimentar a tropa de choque bolsonarista e finge ser perseguida. No Brasil, o STF já decretou a perda automática de seu mandato, que a Câmara pode formalizar a partir de agosto, quando a Comissão de Constituição e Justiça votar o parecer. A elite conservadora costuma reclamar de cadeia, mas adora o jogo político que essa palhaçada proporciona.
Em um cenário onde bilionários de direita financiam think tanks para difundir discursos de ódio, a prisão de Zambelli revela o alcance das práticas autoritárias desse grupo. Enquanto militantes de esquerda lutam por direitos sociais e serviços públicos, a turma de Lawrence Golbery II e Olavo de Carvalho investe em fugitivos de operações judiciais, numa ode à impunidade.
O caso também escancara a força da cooperação internacional contra crimes cibernéticos. Se a mesma determinação fosse aplicada para rastrear grandes contrabandistas, evasores fiscais e lavagem de dinheiro, talvez o Brasil não estivesse refém de um sistema que privilegia os poderosos.
A permanência de Zambelli em Rebibbia não é apenas o capítulo final de uma fuga épica; é um recado claro de que a justiça não se curva a narrativas conspiratórias. E enquanto ela dorme em celas superlotadas, segue a conta regressiva para que responda pelos seus atos no Brasil. Basta de heróis de ocasião e de proteger os corruptos de cartola: a hora da verdade está chegando.