A escalada do chamado “tarifaço” de Donald Trump, impondo uma sobretaxa de 50% aos produtos brasileiros, expõe de forma crua a herança desastrosa da política entreguista de Jair Bolsonaro e seu séquito de serviçais do agronegócio. Enquanto o governo tenta buscar culpados, a verdade é que nossa agricultura e indústria pagam a fatura de velhas alianças que só fortalecem o imperialismo estadunidense em detrimento dos interesses nacionais.
Quem vai carregar esse peso?
O governador Eduardo Leite (PSD-RS) foi rápido em apontar dedos: “Está muito clara que a responsabilidade maior da imposição desse sacrifício ao Brasil está na família Bolsonaro”, declarou à imprensa. E não é para menos. Quantas vezes não vimos discursos de bajulação aos EUA em troca de migalhas para o agronegócio brasileiro? Ainda segundo Leite, “o deputado Eduardo Bolsonaro admite isso”. Resta perguntar: será que a base bolsonarista, hoje tão crítica, não foi cúmplice de um projeto que agora volta para morder quem o abraçou?
O fogo amigo de Lula também entra na conta?
É curioso ver Leite atribuir parte da culpa aos “discursos antiamericanos” do presidente Lula. Claro, qual insulto maior para um patriota de araque do que criticar o dólar ou denunciar a histórica dominação cultural e econômica do império? Mas, ao contrário do ajuste de contas dos governos neoliberais, esses posicionamentos têm o mérito de mostrar ao povo brasileiro que não existe almoço grátis na política externa: ninguém nos dará benefícios de graça. Cabe perguntar: quem serve melhor ao Brasil, o xingamento ao dólar ou a mera capitulação aos interesses de bilionários?
O Rio Grande do Sul sente na pele
Na mira do arrocho estão setores fundamentais do RS. De metalurgia a armas e munições, de couro e calçados a produtos de madeira, ninguém escapa do baque de 50%. Leite levou sua agenda ao vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), mas saiu apenas com a promessa de um “pacote robusto” em fase de elaboração. Quando questionado sobre medidas concretas, o governador se limitou a lembrar ações defensivas adotadas em momentos de crise: “Medidas que foram tomadas tanto na pandemia como nas enchentes do RS são exemplos de políticas públicas que podem ser adotadas”. Segurança ou improviso? Esse tipo de resposta revela o tamanho do descompasso entre a urgência dos trabalhadores e o ritmo burocrático do governo.
É um falso dilema pensar que bastaria adotar isenções pontuais para reverter imediatamente a crise de competitividade que se aprofunda. Enquanto isso, as grandes corporações do agronegócio – aquelas poupadas de qualquer sobretaxa – seguem alimentando lucros bilionários, sustentando lobbies poderosos que transformam nossos parlamentares em meros corretores de interesses estrangeiros.
Que lições tirar desse episódio? Primeiro, que a subserviência degenera em chantagem: o imperialismo não negocia, impõe condições. Segundo, que a entrega de setores estratégicos a grupos privados e a criminalização das estatais deixa o Brasil sem instrumentos para reagir com soberania. Terceiro, que só a resistência popular, unida ao fortalecimento de uma política externa voltada para os trabalhadores, poderá enfrentar as garras do mercado global.
O “tarifaço” de Trump é mais um alerta: não podemos permitir que elites internas e externas transformem o Brasil em quintal barato do agronegócio global. Está na hora de retomar o controle dos nossos recursos, da nossa diplomacia e do nosso destino coletivo. A saída passa por colocar fim ao regime de privatizações, reforçar as estatais e travar um combate decidido contra a direita golpista que prefere alianças externas a atender às demandas do povo.