Logo de cara, Lula mostrou que sabe muito bem onde está o verdadeiro campo de batalha: não é nas negociações com os Estados Unidos, mas na vida de milhões de brasileiros que ainda convivem com a fome e a pobreza extrema. Ao ironizar que “é mais fácil resolver” a tarifa de 50% dos EUA do que “combater a fome e a miséria” por aqui, o presidente cutuca a complacência da elite e escancara o escárnio de quem prefere defender privilégios em vez de direitos básicos.
Lula coloca prioridades na mesa
A crítica de Lula veio durante reunião do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), no Palácio do Planalto. Enquanto setores da direita bradam contra qualquer gasto público, alegando que “não há dinheiro para nada”, o chefe do Executivo ressaltou que, se a diplomacia falha em manter tarifas estrangeiras, ao menos é um obstáculo mais simples de ser derrubado do que a fome. Não é nebulosa fantasia: é urgência social. E, ao lembrar dos traumas da juventude, quando passou necessidade, Lula não conteve as lágrimas — reação humana, visceral, que desmonta qualquer máscara de indiferença.
O presidente ainda lamentou a cobrança insistente para priorizar o pagamento de juros da dívida pública em detrimento da vida dos cidadãos mais vulneráveis. “Guardam dinheiro para pagar a dívida”, criticou Lula, lembrando que essa lógica de austeridade só alimenta o círculo vicioso da miséria. Quem lucra com a especulação financeira prefere manter o sofrimento como moeda de troca para garantir lucros milionários. É nesse cenário que o PT assume o protagonismo: enfraquecer o poder do capital e fortalecer o estado como ferramenta de emancipação popular.
Transformando discurso em ação
A ambição de Lula vai além das promessas eleitoreiras; trata-se de um projeto de país voltado para um Brasil de classe média, onde todo trabalhador tenha acesso a comida farta, escola de qualidade e cultura. “Quero esse país de classe média. Todo mundo comendo, todo mundo estudando”, afirmou, confiante no potencial transformador do Estado. Não se trata de paternalismo, mas de política pública estratégica: combater desigualdades históricas e redistribuir renda. Enquanto a direita insiste em demonizar estatais e privatizar conquistas sociais, o governo mira na reconstrução de um sistema de proteção que blinde o povo das oscilações do mercado.
Rumo a um Brasil mais socialista?
Para muitos setores conservadores, a simples menção à palavra “socialista” soa como ameaça. Mas Lula assume o termo com orgulho e clareza: “Cada vez eu tenho que fazer mais. Significa que cada vez mais vou ficar mais esquerdista, mais socialista, e vou ficar achando que a gente pode mais”. Essa ofensiva discursiva coloca o PT e seus aliados em rota de colisão com o status quo, defendendo a ampliação de políticas de renda mínima, crédito público e expansão de estatais estratégicas. A resistência virá — e já vem. Mas quem luta por justiça social sabe que o avanço demanda coragem para enfrentar narrativas profundamente enraizadas na defesa do grande capital.
É hora de virar o jogo e provar, na prática, que é possível reverter décadas de retrocessos e retroálcool. A disputa política desse novo ciclo exigirá mobilização nas ruas, no legislativo e, sobretudo, na imaginação de um povo sedento por dignidade. O desafio está lançado: ou seguimos sufocados pelas amarras dos credores e do mercado, ou abraçamos a grande aventura de construir um Brasil verdadeiramente socialista, onde a miséria seja apenas uma triste página virada na nossa história.