O presidente Lula recebeu nesta segunda-feira (18) o jovem presidente do Equador, Daniel Noboa, no Palácio do Planalto em uma visita que mistura pragmatismo diplomático e a necessidade urgente de reagir às pressões externas — inclusive o tarifaço imposto pelos Estados Unidos contra produtos brasileiros. Em meio a um mundo cada vez mais polarizado e onde as instituições multilaterais são enfraquecidas por poderes que preferem o belicismo e o comércio de influência, o governo Lula tenta articular um caminho de autonomia que passe pela diversificação de parcerias e pela defesa ativa da soberania regional.
“Em um cenário global desafiador, em que rivalidade se agravam e que instituições multilaterais são esvaziadas, é preciso firmeza na defesa da nossa independência. Para o Brasil autonomia é um sinônimo de diversificação de parcerias” — Luiz Inácio Lula da Silva
A visita ocorre com pano de fundo: desde 6 de agosto uma série de produtos brasileiros entrou nos EUA com sobretaxa de 50%. É óbvio que isso exige uma resposta política e econômica forte — e não a rendição submissa a Washington que setores da direita sempre ofereciam como receita. Lula, com seu pragmatismo histórico, evita nomear o agressor diretamente, mas deixa claro que o Brasil não aceitará ser chantageado. Ao mesmo tempo, acertou-se a reabertura do mercado equatoriano para bananas brasileiras, e o governo espera um movimento de compra de carne suína do Equador, numa demonstração de que o comércio regional pode ser arma contra sanções unilaterais.
Daniel Noboa, reeleito recentemente e com postura mais alinhada ao governo Trump, tentou projetar que a ênfase agora é em segurança e combate ao narcotráfico — um tema que, convenhamos, não se resolve com retórica militarista. “As discussões ideológicas são página virada […], precisamos procurar entender quais são as prioridades da sociedade” — Daniel Noboa Foi uma tentativa de passar um verniz de conciliação; saberemos se isso significa cooperação real ou apenas empurra-empurra ideológico para agradar à direita continental.
Segurança, soberania e controle das plataformas
Lula deixou claro que combater o crime organizado exige coordenação, respeito à soberania e políticas públicas que ataquem suas raízes — e não a fácil solução de tachar tudo de terrorismo para justificar intervenções. “Não é preciso classificar organizações criminosas como terroristas nem violar a soberania alheia para combater o crime organizado” — Luiz Inácio Lula da Silva Esse posicionamento é crucial: a criminalização ampla vira pretexto para ingerências, algo que as direitas neoliberais e militaristas adoram usar quando convém.
O presidente também trouxe à tona um ponto negligenciado por muitos: a necessidade de regras para as plataformas digitais. Segundo ele, sem regulação as sociedades ficam vulneráveis — especialmente crianças e adolescentes expostos a conteúdos predatórios. “Erradicar a exploração sexual de crianças e de adolescente é uma imposição moral e uma obrigação do poder público” — Luiz Inácio Lula da Silva O Planalto estuda enviar ao Congresso um projeto para regular as big techs, alinhando-se a iniciativas que já tramitam na Câmara.
O Brasil precisa recompor sua autonomia econômica e política, e isso passa por fortalecer mercados regionais e estatais, não por ajoelhar-se diante de potências que nos tratam como fornecedoras de matéria-prima. Regulação das plataformas, combate ao crime com respeito à soberania e políticas industriais são pilares de um projeto popular que enfrenta o poder da direita e dos bilionários internacionais.
Lula e o PT aparecem, mais uma vez, como os atores que tentam transformar a diplomacia em instrumento de luta social: não apenas para negociar tarifas e mercados, mas para construir uma integração sul-americana que preserve empregos, proteja soberania e avance em justiça social. A visita de Noboa pode ser fruto de pragmatismo político ou de oportunismo; o que importa é que o Brasil, sob um governo que se declara comprometido com a transformação, busca aliar firmeza diplomática a políticas internas de proteção e desenvolvimento — e isso é um recado claro para os que vestem a camisa da direita neoliberal: aqui não há espaço para submissão nem para retrocessos entreguistas.