A jogada de Lula de projetar Tarcísio de Freitas como o adversário a ser batido em 2026 não é fruto do acaso nem de improviso: é cálculo político puro. Ao transformar o governador de São Paulo em “candidato” antecipado, o presidente busca dois objetivos claros — dar visibilidade ao rival para desgastá-lo e, ao mesmo tempo, aprofundar as fissuras dentro do bloco conservador que tenta se recompor sem Bolsonaro. Isso é luta política com estratégia e ousadia. Quem imaginava que o petismo se limitaria a esperar a vez nas urnas se enganou feio!
O cenário é conhecido: a possibilidade concreta de uma condenação de Jair Bolsonaro no processo que o envolve, somada à saída temporária de Eduardo do país, reduz o leque de alternativas dentro da família. Lula percebeu que restam poucos herdeiros políticos capazes de manter a coesão do bolsonarismo como máquina eleitoral. Diante disso, alguns governadores de direita já se movimentam para ocupar espaço e apresentar alternativas. Aparentemente, Tarcísio quer ser essa alternativa — e fala como tal.
Ao mesmo tempo, o petista reagiu às críticas públicas do governador. Em evento com o senador Ciro Nogueira e o prefeito Ricardo Nunes, Tarcísio atacou o governo e soou como pré-candidato. Lula, que não é bobo nem inativo, decidiu amplificar essa postura: expor o rival nos holofotes para que sua própria corda se estrangule nas contradições. Expor para desgastar: essa é a lógica. E funciona, porque nenhum campo político resiste bem a fissuras internas evidentes.
A divisão no clã Bolsonaro ficou explícita em conversas vazadas e nas redes. Eduardo já lançou ataques a Tarcísio em mensagens obtidas pela investigação; Carlos, por sua vez, não se poupou nas redes sociais ao desqualificar opositores. “Ratos” — Carlos Bolsonaro. Essas faíscas internas são o que Lula quer atiçar: se Tarcísio for elevado demais fora do núcleo bolsonarista, vira alvo de discórdia entre os próprios — e isso corrói a unidade que poderia ameaçar a reconstrução de um bloco conservador hegemônico.
Direita tenta se reinventar — com pressa e ansiedade
Na direita, a leitura é clara: com o risco de Bolsonaro ser condenado, é preciso uma alternativa forte e viável. Governadores e partidos como União Brasil e PP já estão em articulação para ocupar o vazio. Mas a pressa revela fraqueza: quando a classe política corre para compor arranjos antes mesmo de um candidato consolidado, o que se constrói é frequentemente um projeto diluído e vulnerável. Estes não são os tempos de grandes carismas, mas de alianças desconfortáveis.
A resposta pública do PL tenta remediar o desconforto. Valdemar Costa Neto, presidente do partido, veio à rede social afirmar que o candidato do PL será Bolsonaro ou quem ele designar: “o candidato da sigla continua sendo o ex-presidente ‘ou quem ele, só ele, escolher'” — Valdemar Costa Neto. Traduzindo: a pretensa independência de outros líderes do campo conservador é fachada — a família Bolsonaro quer continuar mandando. Só que as condições mudaram, e mandos nem sempre se confirmam quando há racha e desconfiança generalizada.
Lula, por ora, faz o que qualquer estrategista experiente faria: aponta, provoca e observa as reações. Ao colocar Tarcísio no centro do debate, força a direita a mostrar suas cartas e suas contradições. E para nós, da militância, essa é uma lição importante: não basta resistir ao bolsonarismo — é preciso desestruturá-lo, eleitoralmente e politicamente, explorando suas rachaduras e construindo uma alternativa verossímil e transformadora.
O que vem pela frente? A direita seguirá dispersa, tentando costurar candidaturas e egos; o PT, que aprendeu a duras penas em campanhas passadas, mostra que pode jogar com inteligência e ousadia. Esse tabuleiro é oportunidade para ampliar a disputa por projetos de país — por serviços públicos, por estatais fortes e por soberania contra a agenda dos bilionários. Que os que apostaram em velhas raposas do conservadorismo se preparem: a batalha por 2026 já começou, e não será decidida por delírios de poder familiar.