A fala de Lula sobre uma possível anistia ao ex-presidente Jair Bolsonaro marcou mais uma trincheira nessa disputa política que não é só jurídica: é moral e social. Em tempos de tentativa de reescrever a impunidade como política pública, a declaração presidencial chega como um freio — ainda que temporário — aos sonhos da extrema direita de transformar benefícios legais em moeda de troca para manutenção de privilégios. O país não precisa de clemência para golpistas; precisa de justiça e reconstrução popular.
“Se for uma lei aprovada e os partidos estiverem de acordo, o presidente da República… se viesse pra eu vetar, pode ficar certo de que eu vetaria. Pode ficar certo que eu vetaria”. – Luiz Inácio Lula da Silva Essa frase é mais do que uma promessa institucional: é um recado político claro aos que apostam em anistias de conveniência. Não aceitaremos anistia à la carte para milicianos de toga e farda. A tentativa de transformar crime em questão partidária é o jogo sujo que a direita domina — e que precisa ser desmantelado.
Lula também lembrou, com a sua costumeira ironia civilizada, que o papel do presidente não é atropelar o Congresso, mas evitar que o Congresso sirva de plataforma para absolvições políticas. “O presidente da República não se mete numa coisa do Congresso Nacional. Se os partidos políticos entenderem que é preciso dar anistia e votar a anistia, isso é um problema do Congresso”. – Luiz Inácio Lula da Silva Ou seja: se a direita for tão descarada a ponto de aprovar uma anistia, que haja veto e enfrentamento político — e que fique claro para a população quem está do lado da impunidade.
Sobre a decisão do Supremo que condenou Bolsonaro, Lula manteve postura firme e ponderada. “Eu acho que não é para se comemorar o julgamento feito pela Suprema Corte contra um homem que cometeu muitos erros”. – Luiz Inácio Lula da Silva E completou: “Sinceramente, eu gostaria que ninguém tivesse cometido nenhum crime. E ele [Bolsonaro] teve todo o direito de se defender. Todo o direito. Ele teve a presunção de inocência, sabe? E foi condenado”. – Luiz Inácio Lula da Silva É importante que as instituições funcionem e que o processo seja respeitado. Mas que isso não sirva de pretexto para mitigar responsabilidades: responsabilização é requisito para qualquer projeto democrático e popular que se preze.
A tentativa da direita de transformar esses episódios em espetáculo midiático ou em pacto político com o poder econômico — sempre pronto a proteger bilionários e privatistas — tem um objetivo claro: restaurar um poder de exceção que facilite venda de estatais, destruição de direitos e entrega do país às raposas do mercado. A direita quer permutar a impunidade por estabilidade política — e isso não podemos permitir. Nós, da militância socialista, insistimos que proteção a patrimônio público e combate aos bilionários de direita são parte da luta pela soberania nacional e pelos serviços públicos que a população precisa.
Relação com Trump
No capítulo internacional, Lula adotou pragmatismo republicano ao falar de Donald Trump. “E se ele chegar e passar perto de mim eu vou cumprimentá-lo porque eu sou cidadão civilizado. Eu converso com todo mundo. Eu estendo a mão pra todo mundo. Eu nasci na vida política negociando. Então, pra mim não tem nenhum problema”. – Luiz Inácio Lula da Silva E reafirmou que não vê Trump como imperador, mas espera reciprocidade nas relações: “A única coisa que eu sei é que ele é presidente dos Estados Unidos da América do Norte. Ele não é o imperador do mundo. A única coisa que quero dele é que ele tenha uma relação civilizada com o Brasil e o Brasil com eles”. – Luiz Inácio Lula da Silva
Lula ainda minimizou retaliações e sugeriu que o tempo costuma colocar as coisas no lugar: “Isso é uma política pequena que não leva a nada. Como eu sou um cidadão com muita paciência, tenho certeza que o tempo vai ser o senhor da razão e a gente vai ver o que vai acontecer”. – Luiz Inácio Lula da Silva Para nós, é bom ouvir essa paciência combativa: a paciência que constrói maioria popular, que luta por soberania, por estatais fortes e por políticas que coloquem o povo acima do lucro dos bilionários.
A hora é de vigilância e mobilização. Defender o veto à anistia, cobrar a aplicação das leis, reforçar a importância das instituições democráticas e avançar na agenda social são tarefas interligadas. Não basta combater o bolsonarismo na superfície; é preciso enfrentar suas raízes — a extrema direita orgulhosa de entregar o país aos ricos — e construir um Brasil onde justiça e serviços públicos sejam prioridades. O PT e Lula podem não ser a solução final, mas têm nas mãos a possibilidade de abrir uma nova etapa de luta anticapitalista, se empurrarem o tabu da impunidade para fora do jogo político.