Em meio ao “tarifaço” imposto pelos EUA, Lula pegou o telefone e conversou por cerca de uma hora com Xi Jinping — um gesto simples na forma, mas pesado no conteúdo. Enquanto a direita verde-amarela torce o nariz e os empresários amarram as carteiras, o presidente escolheu reforçar laços com o maior parceiro comercial do Brasil e mostrar que o país pode responder com diplomacia firme e caráter estratégico. Não é hora de se curvar ao protecionismo imperial; é hora de organizar resistência econômica e política.
A ligação, confirmada pelo Planalto, tratou tanto da conjuntura internacional quanto do aprofundamento da parceria bilateral. Segundo o comunicado oficial, os dois concordaram sobre o papel do G20 e do BRICS na defesa do multilateralismo e destacaram sinergias entre programas de desenvolvimento — com promessa de ampliar cooperação em saúde, petróleo e gás, economia digital e satélites. Xi, segundo a agência Xinhua, foi direto: “Todos os países devem se unir e se opor firmemente ao unilateralismo e ao protecionismo” — Xi Jinping. A fala ecoa como um recado claro ao presidente Trump e sua gangue de tarifas arbitrárias.
Não é só retórica: a China já é o maior parceiro comercial do Brasil. Entre janeiro e julho, exportamos para lá mais de US$ 57,6 bilhões e trouxemos cerca de US$ 41,7 bilhões em importações. Esses números explicam por que uma conversa com Pequim não é extravagância diplomática, é necessidade estratégica. Além disso, a China se comprometeu a enviar delegação de alto nível para a COP30 em Belém — crucial para colocar o clima e a Amazônia no centro da agenda global com protagonismo brasileiro. “Reiterei a importância que a China terá para o sucesso da COP 30 e no combate à mudança do clima” — Lula.
Lula também aproveitou a ocasião para lembrar, em evento no Planalto, que o Brasil precisa manter sua soberania e sonhar grande num mundo cada vez mais hostil. “Este país está precisando de todos nós, porque o mundo está ficando mais perverso. O mundo está ficando mais nervoso, e nós precisamos de um país soberano, democrático, e que o povo brasileiro seja o único dono deste país” — Lula. Palavras que soam como alerta e convite à resistência política: soberania não se negocia com chantagens tarifárias.
Medidas de reciprocidade
Enquanto isso, no tabuleiro interno, o governo prepara um plano de ajuda econômica para enfrentar o impacto do tarifaço e estuda medidas de reciprocidade. A intenção é pragmática e pontual — segundo fontes, trata-se de ações específicas, não de um rompimento generalizado com negociações. Mas já há gritos na sala de jantar dos capitalistas: empresários temem aumento no custo de insumos e desconfiam que a Lei de Reciprocidade possa sair da mesa de diálogo e virar retaliação mais ampla. “O tema é considerado polêmico porque empresários brasileiros temem que a aplicação da Lei de Reciprocidade possa encarecer produtos importados dos EUA” — Ana Flor, GloboNews.
O governo pediu a três ministérios — Relações Exteriores, Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços e Fazenda — que avaliem medidas pontuais. Haddad e a equipe econômica parecem apostar em munição seletiva: financiamento, incentivos fiscais temporários e compras públicas inteligentes, em vez de bater de frente de forma tola com sanções que poderiam boicotar a economia brasileira. Ainda assim, a decisão é política, e política exige coerência: não dá para defender estatais, planejamento e desenvolvimento social e, ao mesmo tempo, se encolher diante de pressões externas e interesses privados.
O telefonema com Xi foi, portanto, muito mais que um protocolo: foi demonstração de que o Brasil pode e deve construir alianças para resistir ao unilateralismo e para proteger projetos nacionais de desenvolvimento. Para nós, que lutamos contra o bolsonarismo e contra a rapinagem neoliberal, é um sopro de esperança ver Lula e o PT ocupando essa centralidade estratégica — não como tecnocratas, mas como atores que podem dar nova vida a políticas públicas e estatais que beneficiem o povo. Se queremos um país soberano, com estatais fortes e políticas públicas que alcancem a maioria, precisamos transformar esses sinais diplomáticos em poder interno organizado. A hora é de reagrupar forças, defender o Estado e enfrentar os bilionários que lucram com a desgraça alheia. Quem aí está pronto para a luta?