A cena foi clara e necessária: no palácio, Lula botou os pés no chão e exigiu clareza daqueles que, com uma mão, batem palmas para a oposição e, com a outra, seguram cargos e verbas públicas. Não se trata de cortesia ou de “governabilidade” a custo de trair a coalizão que elegeu este projeto; trata-se de lealdade mínima ao povo que espera políticas públicas e não conluio com quem quer privatizar, desmontar estatais e recuperar o terreno perdido pelos bilionários de direita. Ou se está no governo para governar em defesa do povo, ou se sai para fazer campanha de esgoto contra o governo.
Lula foi direto com os quatro ministros indicados pelo União Brasil e pelo PP — Celso Sabino (Turismo), Frederico Siqueira (Comunicações), André Fufuca (Esportes) e Waldez Goés (Integração e Desenvolvimento Regional) — e deixou claro: ministros que não defendem a gestão não podem continuar. “Ministros que não defendem a gestão não podem continuar no governo”, disse Lula, segundo três auxiliares presentes na reunião. Não é birra; é exigência de coerência política. Como aceitar que quem participa de eventos que celebram a federação da direita venha depois maquiar lealdades com justificativas esfarrapadas?
Federação da hipocrisia
A nova “superfederação” União Progressista — União Brasil mais PP — deu as mãos e acenou para os holofotes da velha política: candidatos, costuras e o velho projeto de centro-direita que quer atacar direitos e entregar o país aos mesmos de sempre. Enquanto isso, alguns dos dirigentes desses partidos continuam a ocupar ministérios. O cenário beira o escárnio: mãos na máquina pública, bocas à disposição da oposição. É covardia com a população permitir que esse enrosco de interesses mantenha cadeiras no governo.
“Lula estava em ‘modo campanha’ na reunião”, relataram ministros presentes, e com razão: defender o governo é também preparar o terreno para o enfrentamento político que vem. Lula apontou que Antonio Rueda, presidente do União Brasil, e Ciro Nogueira, líder do PP, fazem críticas públicas constantes — e que, na prática, jogam para a oposição. “O presidente Antonio Rueda não gosta dele, nem do governo. Rueda tem feito críticas públicas ao governo”, disse Lula, conforme fontes que acompanharam a reunião. E sobre Ciro Nogueira, o presidente foi também certeiro ao dizer que o senador age como aliado da oposição porque, segundo ele, não tem votos locais para se reeleger no Piauí.
Enquanto a direita organiza sua federação, insiste em manter ministros no governo para usufruir da máquina. Não é coincidência: é estratégia. Eles querem poder sem responsabilidade, benefícios sem compromisso. E isso precisa acabar. Não se governa assim em um país que precisa reconstruir serviços públicos, fortalecer estatais e resistir às privatizações que beneficiam bancos e oligarquias.
Clareza ou saída
Lula já havia cobrado essa postura antes, em reunião fechada, questionando se aqueles ministros desejavam permanecer no governo. A resposta foi: não querem sair. “Os ministros afirmaram que não desejavam deixar a administração federal”, disseram fontes. Mas agora a cobrança foi pública, diante de todos, e produziu constrangimento — como deveria. Porque governar exige coragem para enfrentar a direita, e isso não se compatibiliza com permanecer no gabinete enquanto se participa de eventos da oposição.
O recado é político e moral: não há espaço para ambiguidades quando o Brasil precisa de quem decida, defenda políticas públicas e enfrente o que resta do bolsonarismo e das suas ramificações. A hora é de clareza e unidade popular, com o PT e sua base assumindo a tarefa de ampliar a luta contra os interesses privatistas e os bilionários que comem o Estado. Se a direita insiste em fazer teatro, que saia do palco do governo e encare o público nas ruas — nós estaremos prontos para responder.