O anúncio de tarifas de 50% pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros não é um fato isolado: trata-se de mais um capítulo da ofensiva imperialista contra nossa economia soberana. Em entrevista à Reuters, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixou claro que não vai se ajoelhar diante de Donald Trump, ao mesmo tempo em que busca uma resposta coletiva junto aos países do Brics.
O revide não será solitário
O governo brasileiro decidiu acionar a Organização Mundial do Comércio (OMC), mesmo sabendo que o tribunal multilateral anda esvaziado. É um gesto simbólico e político: mostrar que ainda existe alternativa coletiva ao unilateralismo truculento imposto pelos Estados Unidos. Eu não vou me humilhar, afirmou Lula, sublinhando que só atenderá ao telefonema de Trump quando perceber uma disposição real para diálogo. Até lá, nada de subserviência!
“Pode ter certeza de uma coisa: o dia que a minha intuição me disser que o Trump está disposto a conversar, eu não terei dúvida de ligar para ele. Mas hoje a minha intuição diz que ele não quer conversar. E eu não vou me humilhar,” disse Lula.
Enquanto isso, boa parte de nossa produção – carne, café e tantos outros itens que alimentam famílias brasileiras – está sob ameaça de sobretaxas que podem prejudicar o emprego e a renda de trabalhadoras e trabalhadores no campo e na cidade.
Brics: o caminho da resistência?
O Brasil faz parte de um bloco de em desenvolvimento que reúne China, Rússia, Índia e outras nações. Lula quer levar ao Brics a discussão sobre o “tarifaço” imposto por Trump e buscar respostas coordenadas. Afinal, não somos meros coadjuvantes do jogo americano. Não somos colônia de ninguém!
“É importante lembrar que o Brics tem dez países no G20,” completou o presidente, lembrando que o bloco é representativo de economias que somam grande parte da população mundial. Se o unilateralismo de Trump mira até mesmo aliados, é aí que a solidariedade internacional deve se impor.
Multilateralismo x Unilateralismo
Lula deixou claro que o embate vai muito além de questões tarifárias: é uma luta de modelo de mundo. De um lado, quem acredita em acordos multilaterais, com regras negociadas em organismos como a OMC; de outro, o isolamento protecionista, esse “cada um por si” defendido por Trump.
“O presidente Trump, categoricamente e publicamente, é contra o multilateralismo. Ele prefere o unilateralismo. Prefere negociar país com país, em vez de negociar por meio da OMC,” explicou o petista. Mas o Brasil segue fiel à ideia de que resolver conflitos por vias coletivas fortalece nações e povos.
Alguns críticos chegam a dizer que a ação junto à OMC é inócua. Para o governo, entretanto, trata-se de demonstrar aos trabalhadores do mundo que ainda há espaço para a diplomacia de solidariedade. Acreditar que podemos enfrentar impérios em conjunto é um passo essencial para a construção de um projeto popular autêntico.
Sem retaliações inúteis
Apesar da provocação dos EUA, Lula garante que não lançará novas tarifas imediatas contra produtos americanos. A razão é simples: isso poderia elevar ainda mais a inflação interna, prejudicando a população que já sofre com preços altos.
“Não vou fazer, porque eu não quero ter o mesmo comportamento dele. Quero mostrar que, quando um não quer, dois não brigam. Eu não quero brigar com os EUA,” afirmou o presidente.
Essa postura demonstra que não se trata de condescender, mas sim de buscar alternativas estratégicas, mantendo-se firme na defesa dos interesses nacionais sem recorrer ao mesmo veneno dos adversários.
Encerrar esse capítulo exigirá mobilização interna e alianças externas. A reconstrução de nossas estatais, o fortalecimento da indústria nacional e o engajamento junto aos Brics podem revelar-se um antídoto ao autoritarismo econômico de Washington. A hora é de resistência e de reafirmar a soberania brasileira diante de quem ainda insiste em nos tratar como subalternos.