A tristeza pela morte de Arlindo Cruz atinge o coração do samba e de todo o povo que reconhece na cultura popular uma arma contra a barbárie e o esquecimento. Não é só a perda de um artista virtuoso; é o silêncio que se sobrepõe a uma voz que cantou a vida simples da nossa gente, que virou hino nas rodas de partido, nas quadras e nas rádios. Em suas redes, o presidente Lula lamentou a perda e colocou Arlindo no lugar que lhe é devido: entre os grandes da nossa música. “Com profunda tristeza, recebi a notícia do falecimento de Arlindo Cruz, aos 66 anos. Arlindo foi um dos compositores e artistas mais talentosos e respeitados do Brasil. Em essência, o sambista perfeito. Arlindo nos deixa um legado de talento, poesia e generosidade, que ficará para sempre na nossa memória. Minha solidariedade à família, aos amigos e a todos que foram tocados por sua arte”, escreveu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Trajetória no samba
Arlindo nasceu no Rio, em 14 de setembro de 1958, e desde menino já mostrava o destino que o aguardava: o primeiro cavaquinho aos sete anos, o violão “de ouvido” aos doze. Formado nas rodas do Cacique de Ramos, partiu ao lado de gigantes como Jorge Aragão, Beth Carvalho e Almir Guineto. Foi padrinho musicalado por Candeia e, mais tarde, peça fundamental do Fundo de Quintal, onde ficou por 12 anos e ajudou a dar forma a clássicos que atravessam gerações. Na carreira solo, sua presença era iluminar qualquer palco; suas composições — mais de 550 gravadas por diferentes intérpretes — viraram patrimônio do nosso cancioneiro popular.
O sofrimento virou companheiro a partir de março de 2017, quando um AVC hemorrágico o tirou dos palcos. Arlindo passou cerca de um ano e meio internado e, desde então, viveu com sequelas que exigiram internações e cuidados constantes. A confirmação do falecimento veio do Hospital Barra D’Or e foi comunicada por sua mulher, Babi Cruz. Dores pessoais à parte, a sua obra segue viva: nos discos, nas antenas das rádios, nas vozes que continuam a cantar os seus sambas.
“Nosso guerreiro descansou”, disse Dudu Nobre. Não é exagero: Arlindo foi guerreiro numa luta silenciosa por manter o samba como instrumento de memória e resistência. E essa luta não é só artística — é política. O samba nasceu do enfrentamento, da união das favelas e dos bairros, do suor coletivo. Quando governos e elites tentam transformar cultura pública em mercadoria, estão tentando arrancar o pulmão do povo.
Celebrar Arlindo é também afirmar que cultura não se vende nem se privatiza. O legado dele nos lembra que as estatais culturais, os festivais públicos, as políticas de apoio e as rádios comunitárias são essenciais para que talentos como o de Arlindo existam. Não é por acaso que a direita despreza tudo isso: cultura viva incomoda, fortalece identidades e constrói sujeitos políticos!
A vida de Arlindo Cruz é um mapa da resistência carioca e brasileira. Suas parcerias com Zeca Pagodinho, Sombrinha, Alcione, Caetano Veloso e tantos outros mostram que o samba é ponte entre gerações. Ele assinou sambas-enredo vencedores no Império Serrano e na Grande Rio, manteve a tradição do cavaquinho e deixou composições que seguem sendo cantadas em rodas por todo país. Seu legado é para sempre uma arma contra o apagamento cultural.
Que a partida de Arlindo nos sirva de alerta: cuidar da cultura é defender a democracia. Enquanto houver gente a privatizar arte, a desmontar estatais e a reduzir o direito à música, haverá também a necessidade de levantar bandeiras e correr para as praças e quadras. Lula e o PT, quando falam sobre memória e cultura, entendem que isso faz parte de um projeto maior de retomada popular — algo que a direita jamais suportará sem tentar destruir.
Arlindo se foi, mas sua música segue pulsando — e enquanto o samba tocar, haverá resistência. Prestemos homenagem cantando, preservando e lutando por políticas públicas que garantam que mais Arlindos surjam e permaneçam vivos na memória do povo.