Ao subir à tribuna da 80ª Assembleia Geral da ONU, Lula não só falou — ele deu um tapa simbólico na cara das potências que pregam democracia de exportação enquanto atacam a soberania alheia. Em um discurso que foi ao mesmo tempo denúncia, convocação e pedagogia política, o presidente deixou claro que o Brasil não vai aceitar tutelas externas nem a chantagem econômica de quem acha que pode ditar regras ao Sul Global.
“Nossa democracia e nossa soberania são inegociáveis” – Luiz Inácio Lula da Silva. Com essa frase, Lula resumiu a essência do que levou o país à tribuna: a defesa das instituições diante de tentativas de intimidação e das medidas unilaterais que têm marcado a ordem internacional. É um recado para os que ainda apostam na revanche autoritária: nenhum golpe fica impune para sempre. E que fique claro: condenar um ex-presidente por tentativa de golpe e responsabilizá-lo judicialmente não é perseguição, é reafirmar a regra do jogo democrático.
Crise com os EUA e a hipocrisia internacional
A viagem do presidente ocorre num momento tenso nas relações com os Estados Unidos — o país de carteirinha que gosta de dar lição de democracia enquanto aplica tarifas punitivas e sanciona cidadãos brasileiros por razões políticas. As medidas de Washington — tarifas de 50% sobre produtos brasileiros e sanções pessoais via Magnitsky — são uma mistura de retaliação e palhaçada geopolítica. Como lembrou Lula, não há justificativa para medidas unilaterais contra nossas instituições e economia. “A agressão contra a independência do Poder Judiciário é inaceitável” – Luiz Inácio Lula da Silva.
O presidente também expôs com coragem a hipocrisia que cobre crimes em escala industrial quando cometidos por aliados: na Faixa de Gaza, chamou o que ocorre de genocídio e denunciou a cumplicidade daqueles que poderiam e não quiseram evitar a catástrofe. “Nada, absolutamente nada, justifica o genocídio em curso em Gaza” – Luiz Inácio Lula da Silva. Um abraço solidário para os que ainda acreditam que o direito internacional não é carta de intenções!
Lula não ficou só na crítica política: apresentou propostas concretas de agenda para o Sul Global — da batalha contra a fome, com a Aliança Global do G20, à exigência de reforma dos organismos internacionais, passando pela necessária regulação das plataformas digitais. Sobre a internet, foi direto: regular não é tolher expressão; é responsabilizar empresas que abrigam crime e desinformação. Se a democracia se mede pelo acesso à alimentação, saúde e educação, então combater a pobreza é também defender a própria democracia.
O presidente ressaltou ainda a importância da COP30, em Belém, chamando-a de “COP da verdade”. Cobrou compromisso real dos ricos com metas e financiamento climático, e propôs o Fundo Florestas Tropicais para Sempre como instrumento de pagamento por serviços ambientais — proposta que faz soar os alarmes entre os interessados em saquear a Amazônia.
Lula fez tudo isso com o discurso político que esperávamos de um governo popular: firme contra a direita e suas burlas, aliado aos povos do Sul, defensor das estatais e da soberania econômica. Para quem acha que o jogo é perder tempo com protocólios, ele mostrou que se pode ao mesmo tempo defender o Brasil e provocar uma agenda internacional mais justa.
O recado ficou dado: o Brasil quer multilateralismo com justiça, não ordens unilaterais disfarçadas de moralidade. Se a ONU quer novamente ser protagonista da paz e da igualdade, terá que ouvir a voz do Sul — e isso, meus caros, inclui negociar dívida, tributar os ricos e salvar o planeta. Quem sair da COP30 sem propostas concretas terá apenas discursado bonito, enquanto o mundo afunda.