O presidente Luiz Inácio Lula da Silva subiu à tribuna da 80ª Assembleia Geral da ONU em Nova York com a postura de quem vem para disputar o terreno diplomático que a direita e as oligarquias tentaram entregar de bandeja ao mercado e aos caprichos imperialistas. Em plena crise com Washington, Lula reafirmou que o Brasil quer uma ONU mais representativa e uma ordem internacional que ouça — de fato — o Sul Global. A mensagem foi clara: não cedemos nossa soberania nem nos curvamos às pressões dos poderosos.
Na ONU, a voz do Sul
“Nossa democracia e nossa soberania são inegociáveis”, disse Lula. Em discurso focado na reforma da instituição e no multilateralismo, o presidente colocou o BRICS e a emergência do Sul como eixos centrais para deslocar o centro do poder global. “A voz do Sul Global deve ser respeitada e ouvida. A ONU tem hoje quase quatro vezes mais membros do que os 51 que estiveram na sua fundação. Nossa missão histórica é a de torná-la novamente portadora de esperança e promotora da igualdade, da paz, do desenvolvimento sustentável, da diversidade e da tolerância”, afirmou Lula. Foi um aceno não só aos líderes que sempre foram marginalizados nas decisões globais, mas também à base popular brasileira que não aceita retrocessos neoliberais.
Lula apontou o BRICS como fórum estratégico para o hemisfério sul, e não por acaso: é ali que se constrói uma alternativa às chantagens econômicas e políticas das potências tradicionais. O presidente também voltou a pedir mudanças no Conselho de Segurança da ONU — há décadas o Brasil reivindica assento permanente — e criticou o estado de “xeque” da autoridade da organização, que precisa refletir o mundo real, não os interesses de meia dúzia de países ricos.
Lula não veio à ONU para fazer média: veio para disputar poder e agenda internacional em nome do povo brasileiro.
Crise com os EUA: sanções e tarifas
A viagem ocorre em meio à pior crise diplomática com os Estados Unidos nas últimas décadas, desencadeada pela imposição de tarifa de 50% sobre produtos brasileiros — retaliação explícita da administração Trump às investigações e processos relacionados ao bolsonarismo. Como não poderia faltar no teatro da reação, rodopiam medidas de coerção e escárnio: revogação de vistos, sanções financeiras e a aplicação da lei Magnitsky contra cidadãos brasileiros, incluindo a esposa de Alexandre de Moraes.
“[Tarifas unilaterais] Desorganizam cadeias de valor e lançam a economia mundial em uma espiral perniciosa de preços altos e estagnação. É urgente refundar a OMC em bases modernas e flexíveis”, disse Lula. Era necessário ouvir isso alto e claro: protecionismo camuflado de defesa doméstica não é resposta, é sabotagem à cooperação e ao desenvolvimento soberano dos povos. E enquanto Trump ocupa a segunda fala na assembleia, sua diplomacia de tapetão tenta punir o Brasil por abrir processos e defender a democracia — ironia para quem sempre alega ser paladino da ordem.
Não aceitaremos que interesses de bilionários e oligarquias decidam o destino do Brasil ou da América Latina.
Para nós, que militamos por mudanças profundas, o discurso de Lula na ONU é mais que postulação diplomática: é um chamado à construção de um bloco internacional que enfrente a lógica predatória do capital e defenda as estatais, políticas públicas e a soberania popular. O cenário é tenso, mas também é uma oportunidade. A ofensiva imperial e doméstica da direita bolsonarista ecoa aqui e ali, mas encontra resistência quando um governo que se declara antineoliberal ocupa palcos globais exigindo reforma, justiça social e respeito aos povos do Sul.
O resto do mundo assiste: se a ONU e a OMC permanecerem reféns de interesses concentrados, a resposta terá de ser política e popular — dentro e fora das instituições. Lula, ao levar essa bandeira ao púlpito da ONU, fez o que sempre defendemos: transformar diplomacia em instrumento da luta social, arrancando a soberania das garras dos que apenas lucram com a miséria alheia. Quem está do lado do povo, que se some à luta!