A presença firme de Lula no “Conselhão” nesta terça-feira (5) não é mero formalismo: trata-se de um recado claro a quem insiste em submeter o Brasil às chantagens de Washington. Enquanto o bolsonarismo lamenta a volta das estatais e suspira pelo tal “livre mercado” americano, o governo democrático-popular retoma as rédeas nas mãos da maioria trabalhadora. Afinal, quem manda por aqui somos nós, e não as multinacionais do agronegócio gringo.
O papel estratégico do Conselhão
Inaugurado em 2003 e temporalmente engavetado pelo governo de Jair Bolsonaro, o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social Sustentável (ou “Conselhão”) voltou à cena em 2023 para reunir ministros, empresários, ativistas e representantes dos mais diversos setores. Nesta edição, agronegócio, CNI, Fiesp, Embraer e Febraban sentam-se à mesa juntamente com vozes do movimento negro, da educação e do setor de tecnologia – Google, TikTok e Samsung inclusos. Uma coalizão plural que sinaliza a busca por um projeto nacional de desenvolvimento, completamente distinto das privatizações entreguistas que o ex-capitão sonhava em esticar à venda.
A agenda deste quinto encontro não poderia ser mais oportuna. Debates sobre o “tarifaço” impulsionado por Donald Trump, a assinatura de decretos de proteção à indústria nacional e a proposta de acordos de cooperação são alguns dos pontos quentes. Além disso, o governo pretende sancionar medidas de estímulo às exportações e recriar instrumentos de fomento capazes de enfrentar a concorrência predatória do imperialismo. É a reafirmação de soberania nacional acima de tudo, num momento em que as elites brasileiras balbuciam justificativas para privatizar Petrobras e Eletrobras de novo.
Gleisi Hoffmann, ministra das Relações Institucionais, abriu a discussão com críticas ferozes ao bloqueio americano e pediu unidade de todas as forças progressistas. Na sequência, Geraldo Alckmin relembrou a necessidade de restituir a confiança dos investidores, mas deixou claro que isso não passa por sucumbir aos interesses de Steve Mnuchin e seus asseclas. Para fechar a manhã, Lula pisou no plenário do Itamaraty e enfiou o pé na porta das manobras neoliberais: “Vamos debater medidas práticas para enfrentar a crise global, mas sempre com nossa bandeira socialista tremulando”, declarou, em tom combativo.
Os 155 conselheiros reconduzidos pelo presidente e as 131 novas figuras nomeadas – entre eles Dira Paes, Raí e Felipe Neto – mostram o cuidado de Lula em manter o protagonismo da sociedade civil e ampliar o leque de vozes influentes. Não é por acaso que artistas, ex-jogadores e influenciadores digitais aparecem lado a lado com líderes de movimentos de base. Essa alternância de olhares fortalece a democracia direta e empurra para o alto as demandas populares, minando a rigidez hierárquica do velho sistema partidário.
Este encontro do Conselhão reafirma que o governo do PT não está satisfeito com meros acordos de ocasião. A proposta é pensar um modelo de país onde o agronegócio atende a mercado interno e externo com preços justos, a indústria cresce sem ser engolida pelas grandes montadoras estrangeiras, e o setor financeiro deixa de sugar a renda dos trabalhadores. Um desafio hercúleo, diante das pressões de Wall Street, mas não há vitória sem enfrentamento direto.
Por fim, é nítido que a oposição conservadora se estraçalha em teorias conspiratórias e em tentativas desesperadas de desqualificar o processo. No entanto, não adianta chorar no Twitter ou bancar o “golpeiro”: a mobilização popular está a pleno vapor, e o Brasil redescobre sua força emancipadora. Se querem guerra tarifária, vão ter resposta à altura – e a última palavra será dada nas urnas, com voto consciente e força de rua.