luta socialista

Lula nomeia Marluce Caldas para o STJ entre técnica, política e oligarquias regionais

A nomeação de Marluce Caldas para o Superior Tribunal de Justiça pelo presidente Lula é mais um episódio dessa trama política que mistura competência técnica, arranjos regionais e, claro, a velha política dos poderosos locais. A cerimônia no Palácio da Alvorada, com a presença do presidente do STJ, ministro Herman Benjamin, confirmou uma escolha já anunciada pelo Planalto em julho e aprovada por unanimidade no Senado — mas não foi só mérito que levou Marluce à vaga: houve costura, família e interesses de toda sorte rondando a decisão.

“A escolha é fruto de um processo democrático e técnico”, disseram alega­ções oficiais — como se o discurso técnico conseguisse apagar, por si só, o tabuleiro político por trás das indicações. Marluce Caldas, procuradora do Ministério Público de Alagoas, é tia do prefeito de Maceió, JHC, que apoiou publicamente a nomeação. O sobrinho, filiado ao PL, ensaia migração para o PSB, sinalizando aproximação com o governo Lula — um passo que soa mais como pragmatismo eleitoral do que como convicção política profunda. As alianças locais continuam a mover cargos e favores enquanto o debate nacional segue à mercê de concessões.

Costura política em Alagoas e o jogo de influências

A costura para emplacar Marluce passou por nomes que parecem saídos de um catálogo de caciques: de um lado Arthur Lira (PP-AL), do outro Renan Calheiros (MDB-AL) e o ministro Renan Filho. Ou seja: uma coalizão que reúne os protagonistas do velho poder alagoano. Não é surpresa — é o velho balcão de interesses que o Brasil conhece bem. Mas também é inegável que Marluce tem trajetória: formada em Direito pela UFAL em 1982, ingressou no Ministério Público de Alagoas em 1986 e foi promovida a procuradora de justiça em 2021, com atuação nas áreas criminal e de direitos humanos.

Podemos e devemos reconhecer a experiência técnica, sobretudo quando se trata de alguém que trabalhou com direitos humanos — área que, como sabemos, precisa de defensores nos tribunais para frear retrocessos. Ainda assim, não podemos fechar os olhos para o contexto político que envolve sua indicação: familiares, trocas partidárias e acordos regionais que, muitas vezes, reproduzem práticas clientelistas. Nomear com critério é imprescindível; porém, permitir que velhas oligarquias ditem as regras é um risco que a esquerda não pode naturalizar.

Por outro lado, a capacidade de Lula e do PT em articular apoios e em colocar representantes com trajetória no serviço público em posições estratégicas é parte da ofensiva necessária contra a direita bolsonarista e seus ataques às instituições. O país precisa de ministros e ministras comprometidos com o serviço público, com as estatais e com direitos sociais — não com a lógica privatista e entreguista que a direita defendia com fervor. Essa nomeação, portanto, tem dupla face: é um avanço institucional e, ao mesmo tempo, fruto das negociações que nosso campo precisa disputar com clareza.

O desafio para nós, militantes socialistas, é utilizar essas vitórias parciais para avançar no projeto democrático-popular que defendemos. Não se trata de adorar cargos ou celebridades partidárias, mas de garantir que as instituições sirvam à maioria — e não aos poucos que controlam os quintais do poder local. Lula pode e deve ser pressionado a colocar no centro da agenda a defesa das estatais, a regulação da mídia e medidas que diminuam a concentração de renda.

A nomeação de Marluce Caldas entra para a lista de decisões que misturam técnica e política: há mérito, sim, mas também há novela regional. Cabe à esquerda transformar esse tipo de ocupação de espaços em oportunidade para aprofundar a luta contra o conservadorismo econômico e social. Se não fizermos essa pressão, os acordos que hoje parecem inofensivos amanhã se transformarão em mais um tijolo na casa dos poderosos. E nós não vamos aceitar que a política seja apenas isso — vamos disputar poder com clareza e coragem!

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