luta socialista

Lula participa do desfile de 7 de Setembro em Brasília sem ministros do STF, enquanto Motta comanda a tribuna

O desfile de 7 de Setembro na Esplanada dos Ministérios foi palco de um recado claro: o governo Lula buscou transformar a data numa demonstração de soberania e de defesa do Estado, enquanto o campo da direita, cada vez mais desmoralizado, tenta costurar anistias e salvar o que resta de sua audácia golpista. Lula chegou às 9h04 e percorreu a avenida em carro aberto ao lado da primeira-dama Janja — gesto republicano, popular e direto, contrastando com a desfaçatez dos que querem enterrar a justiça em nome de acordos políticos.

O governo batizou o ato de “Brasil Soberano”, com três eixos: defesa da soberania nacional, organização da COP30 e o novo PAC. Não por acaso, o slogan também foi usado como resposta ao chamado “tarifaço” de Donald Trump — que, ironicamente, justificou a sobretaxa atacando o julgamento de Jair Bolsonaro no STF e chamando o processo de “uma vergonha internacional” — Donald Trump. Enquanto os bilionários e seus aliados lambem as botas do exterior, o governo aposta em uma narrativa de autonomia e proteção das nossas empresas e empregos. Lula foi ao desfile para reafirmar a soberania do povo, não dos mercados.

A cena teve contradições políticas escancaradas: ministros de partidos que anunciaram desembarque do governo — como o União Brasil e o PP — circularam pelo evento. O ministro do Turismo, Celso Sabino, apareceu até com o boné “Brasil Soberano” entregue pela organização, tentando alongar sua permanência no cargo enquanto a cúpula do partido lhe puxa o tapete. A hipocrisia é de fazer rir se não fosse perigo: políticos que abandonam o governo e, ao mesmo tempo, beijam a mão do simbolismo presidencial para não perder foto.

Poucos detalhes foram deixados ao acaso. Os ministros do STF não participaram do desfile, e o evento terminou sem discursos formais do presidente ou de outras autoridades — um contraste com o nervosismo que ronda Brasília. Em um momento tenso, parte do público gritou “sem anistia” — parte do público, lembrando que a sociedade está atenta e que a tentativa de varrer responsabilidades sob o tapete não passará em branco.

O perigo real: a tentativa de anistia e o jogo sujo do Centrão

Enquanto o julgamento que pode condenar Bolsonaro avança no STF, a Câmara ferve em manobras para aprovar uma anistia que alivie os conspiradores de 8 de janeiro de 2023. O presidente da Câmara, Hugo Motta, está cercado por pressões: o PL, o Centrão e figuras do próprio governo-antes-da-saída tentam empurrar um texto que, dependendo da ambição, poderia até atingir o próprio ex-presidente. O Senado trabalha em alternativas menos abrangentes, mas o que está em jogo é civilização versus impunidade.

O PT e o governo se posicionaram firme e publicamente contra qualquer anistia. Lula convocou a mobilização social para barrar esse absurdo — e acertou ao pedir que a sociedade não espere decisões de cúpulas sem pressão popular. “o país não aceitará ordens” — Lula. A anistia para golpistas seria um insulto à democracia e uma consagração do crime político.

Entre as presenças no desfile, além de Lula e Janja, estavam o vice-presidente Geraldo Alckmin, ministros como Rui Costa, José Múcio, Ricardo Lewandowski, Simone Tebet e Marina Silva, e lideranças diversas do governo. A lista completa de autoridades ocupou a Esplanada, mas a moral da plateia foi dada pelos gritos, pelas faixas e pelo receio, cada vez maior, de que a direita tente retomar fôlego com soluções jurídicas e legislativas que anulam a punição pelo golpe.

O 7 de Setembro mostrou algo simples e potente: a disputa pela memória e pela punição do golpe é política e popular, não apenas jurídica. Se banqueiros, empresários e partidos conservadores apostam em anistias e em manobras, a esquerda e a sociedade têm de multiplicar a ação nas ruas, nos sindicatos e nas comunidades. O país escolheu a soberania — e a resposta ao avanço reacionário tem de ser à altura dessa escolha. A hora é de organização e luta, sempre.

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