A proposta de emenda constitucional que quer enterrar a escala 6×1 — aquela que obriga trabalhadores a ralar seis dias e descansar apenas um — voltou a ganhar força nas redes e voltou a ser pauta do governo. O ministro do Trabalho, Luiz Marinho, deixou claro: sem pressão popular, nas ruas e nas urnas, o Congresso vai enterrar a luta da classe trabalhadora como sempre faz. A pergunta que fica é óbvia: vamos seguir bancando o sucateamento da vida do povo para satisfazer patrões e representantes do patrimonialismo brasileiro?
“É preciso botar muita pressão no Congresso Nacional para isso ter possibilidade de vitória” — Luiz Marinho. O ministro não poupou realismo: o Parlamento, como apontou, tem um perfil que “se deixar ele livre, leve e solto, só vem prejuízo para a classe trabalhadora”. “Só vai de um jeito, é muita pressão. Parece feijão velho, só vai com pressão” — Luiz Marinho. Tradução para quem ainda acredita em milagres institucionais: sem mobilização, sem rua, sem barulho, o trabalhador perde.
A PEC foi apresentada pela deputada Erika Hilton (PSOL-SP) e prevê reduzir a jornada máxima para 36 horas semanais em quatro dias, acabar com o regime 6×1 e recuperar dignidade ao tempo de vida das pessoas. É uma proposta que aponta para a redistribuição do tempo e para a humanização do trabalho — medidas que, diga-se, deveriam ser óbvias numa nação que ainda tem bilionários enriquecendo enquanto a maioria mal tem tempo para ver seus filhos crescerem. “O objetivo central é acabar com a possibilidade de escalas de 6 dias de trabalho e 1 de descanso” — Erika Hilton.
O que está em jogo
Os números não mentem: pesquisa Quaest mostrou que 70% dos deputados federais são contra o fim da escala 6×1. Traduzindo novamente: a esmagadora maioria do Congresso está ao lado do patrão, e não do trabalhador. E se alguém ainda acredita que o jogo se resolve apenas com boa vontade no plenário, pergunte-se por que regimes e leis que protegem o capital andam sempre nas mãos de quem tem interesses no lucro privado. Não é coincidência: é política.
O fim da 6×1 só vai acontecer com organização popular, mobilização nas ruas e pressão sobre deputados e senadores. Se o Parlamento for deixado “livre, leve e solto”, o que resta são prejuízos para a classe trabalhadora. É preciso combinar a luta institucional com a luta de massas — essa combinação que Lula e o PT, quando comprometidos com um projeto popular, entenderam como necessária para avançar direitos sociais no país.
O ministro também recomendou que, no momento do voto, eleitores observem a posição de candidatos sobre a 6×1: uma dica óbvia e urgente. “Sugiro aos eleitores levarem em consideração as opiniões dos candidatos a deputado e a senador sobre a escala 6×1 no momento de decidir os votos” — Luiz Marinho. Não dá para terceirizar a esperança: ou pressionamos, cobramos e punimos politicamente quem se posiciona contra direitos, ou voltamos a aceitar que interesses privados ditem as condições de vida da maioria.
O desafio é grande, mas a alternativa é pior: aceitar que a ganância continue moldando leis e rotinas que transformam trabalhadores em peças descartáveis. Precisamos fortalecer sindicatos, movimentos sociais, ocupações e uma base política que não tema enfrentar o poder econômico. E é aqui que entra o papel estratégico de forças como o PT: não apenas como alternativa eleitoral, mas como ponto de articulação de uma nova etapa de luta anticapitalista no Brasil.
A batalha pela jornada, pelo direito ao descanso e por mais tempo de vida não é só uma questão técnica de horas; é uma disputa política sobre quem controla o tempo e a existência das pessoas. Se queremos acabar com a lógica do prejuízo permanente aos trabalhadores, é hora de botar músculo nas ruas, cobrar nas urnas e transformar pressão em lei. Quem quiser conforto do lado de lá dos altos muros, que fique com os bilionários — nós queremos a democracia do trabalho e o país para quem produz.