A pressão que veio do Palácio não foi sussurro: depois da cobrança direta de Lula, os ministros alinhados ao Centrão estão sendo orientados a não aparecer em eventos partidários — e a ordem tem nome: preservar a governabilidade e expor os oportunistas. O caso mais visível é o de Celso Sabino (União-PA), ministro do Turismo, que se agarra ao cargo enquanto a cúpula do União Brasil já antecipou a discussão sobre o desembarque do governo. O resultado? Um empurra-empurra típico do fisiologismo: se não sair “por bem”, será empurrado para fora do partido. “Ou ele sai do ministério ou ‘é saído’ do partido”, disse um integrante ligado à cúpula do partido.
Relação com o governo
A crise ganhou contornos pessoais após a fala franca de Lula. O presidente foi direto e deixou claro que percebe quem é aliado de verdade e quem quer apenas manter o boné no balcão do poder. “[Antônio] Rueda não gosta de mim, nem do governo”, disse Lula, e deixou claro que a recíproca também vale. Na reunião com os ministros, Lula exigiu que os quadros do União Brasil e do Progressistas tomassem partido e demonstrassem lealdade ao projeto do país — algo que deveria ser óbvio, mas que para o Centrão parece missão impossível.
O ministro Sabino reagiu com a costumeira narrativa do prazo eleitoral e recusou discutir sua saída. “Somos um partido que tem muitos filiados e tenho certeza que vários deles estão dispostos a apoiar o presidente Lula. Não vejo razão, por causa de uma eleição que vai acontecer daqui a mais de um ano, em antecipar agora uma discussão…” disse ele à GloboNews, numa tentativa de deslocar o debate para o calendário em vez de assumir responsabilidade política. Em grupos internos do partido, Sabino repetiu a cartilha do “não é prudente”. Ainda assim, interlocutores do União foram claros: “ninguém quer comprar briga com [Davi] Alcolumbre” — sinal de que o jogo é tanto de poder quanto de medo das repercussões no Senado.
O que estamos vendo é a face mais crua do Centrão: um arranjo de poder que se alimenta de cargos e de favores, e não de projeto para o país. A cúpula do União reclama que Sabino não priorizou o partido na distribuição de convênios e emendas — acusações que afiguram como a prova de que o ministério virou balcão e não instrumento de política pública.
A intriga ganha mais um capítulo com Davi Alcolumbre: apesar de filiado ao União, alguns ministros indicados por ele não são membros do partido — é o caso de Waldez Góes (Integração e Desenvolvimento Regional) e Frederico Siqueira (Comunicações). A interpretação interna é estratégica: Alcolumbre teria o direito de manter influência no governo e até indicar sucessor no Turismo, mas isso não necessariamente se confunde com lealdade partidária. Em resposta pública, o novo presidente do União enviou uma nota recortada de vaidade: “A fala do presidente evidencia o valor da nossa independência e a importância de uma força política que não se submete ao governo”, escreveu Antonio Rueda, numa tentativa de transformar conflito político em marketing.
Enquanto isso, o balcão eleitoral segue sua roda-viva: a cúpula do União avalia apoiar Tarcísio de Freitas (Republicanos) para 2026, mesmo com Ronaldo Caiado como possível pré-candidato do próprio União — e murmura-se que Ciro Nogueira poderia compor a chapa como vice. É o tipo de jogada onde acordos e cargos valem mais do que qualquer coerência ideológica.
Essa mistura de ambição pessoal e oportunismo é o que chamamos de política sem princípios. Para quem acredita que o PT e Lula representam apenas uma alternativa eleitoral, ver que o presidente exige lealdade e que parte do Centrão responde com chantagem expõe o tamanho da batalha que temos pela frente. Não se trata apenas de ocupar cadeiras, mas de defender um projeto nacional que rejeite privatizações, proteja estatais e combata a influência dos bilionários que bancam a degeneração política. O jogo está montado: ou a força do povo e das políticas públicas prevalece, ou o balcão do Centrão continuará a vender o país em parcelas.