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Ministro do União Brasil aposta no boné “Brasil Soberano” em meio ao desgarramento do partido do governo

O boné azul com a inscrição “Brasil Soberano” usado pelo ministro do Turismo Celso Sabino durante o desfile de 7 de Setembro em Brasília foi mais do que um adereço de ocasião: virou peça de teatro político ao vivo. Entre acenos, recuos e negociações de gabinete, o acessório mostrou que o governo segue atolado entre os interesses dos partidos que querem sair correndo e uma retórica oficial que tenta vender unidade onde há apenas disputa de poder. Sabino, filiado ao União Brasil, foi um dos poucos ministros que pôs o boné na tribuna — gesto que não passou despercebido num governo que vive sob a ameaça de um desembarque partidário. A imagem do ministro com o boné funciona como um sinal: há quem ainda queira ficar, e há quem preferiria empurrar os seus para fora com pressa e sem cerimônia.

Boné, teatro e pressão partidária

O boné foi distribuído a alguns participantes antes do desfile; outros ministros optaram por não colocá-lo na cabeça, segurando-o como se fosse um souvenir embaraçoso. O ministro da Defesa, José Múcio, por exemplo, preferiu apenas segurá-lo. Enquanto o governo tenta emoldurar o 7 de Setembro com o lema “Brasil Soberano”, nos bastidores a realidade é outra: o União Brasil e os Progressistas tratam de ameaçar e chantagear seus filiados que relutam em abandonar o governo Lula. É esse o tipo de “soberania” que eles celebram: a soberania das bancadas e dos interesses que cobram troca de cargos como se fosse mercadoria.

“Se Sabino não sair do governo ‘por bem’, a alternativa será expulsá-lo da agremiação,” dizem interlocutores do União Brasil, confirmando que a pressão é real e a saída do partido do governo é vista por muitos como irreversível. Sabino, segundo analistas políticos, tem feito esforço nos bastidores para se manter no cargo — um esforço que, para quem conhece a lógica dos partidos de direita, pouco tem de nobre e muito de sobrevivência pessoal.

Não nos enganemos: isso não é apenas sobre um chapéu ou sobre um ministro teimoso. É sobre o embate entre um governo que tenta retomar a narrativa do interesse nacional e uma direita que vê a administração pública como terreno de caça para amigos, mercadores e bilionários. E, claro, também é sobre a necessidade de respostas contundentes do campo popular. Lula e o PT, desde julho, colocaram na linha de frente a defesa da soberania nacional — em especial depois do aumento de tarifas imposto pelo governo dos Estados Unidos sobre produtos brasileiros. Foi Donald Trump quem determinou uma sobretaxa de 50% sobre bens brasileiros e, ainda por cima, relacionou a posição de Jair Bolsonaro ao que chamou de “uma vergonha internacional” em referência ao julgamento do ex-presidente no Supremo Tribunal Federal.

A reação do governo e de seus ministros, portanto, tem duas dimensões: externa, contra o imperialismo comercial de Washington; e interna, contra o jogo de interesses que corrói qualquer capacidade de ação do Estado em defesa do povo. Para nós, que militamos por uma ruptura democrática e pela retomada do controle popular sobre as empresas estratégicas, o episódio do boné é simbólico — e não pode se reduzir a um detalhe pitoresco da televisão.

O desafio é construir, a partir dessas cenas, um projeto que não apenas resista às pressões da direita e dos partidos entreguistas, mas que avance numa agenda estatal progressista: proteção às estatais, combate às privatizações, enfrentamento aos bilionários que financiam o retrocesso. Lula e o PT não são meros administradores de turno; precisam ser atores centrais de uma nova fase de luta anticapitalista no Brasil — e devem ser cobrados por isso. Se o boné simboliza algo, que seja a chance de transformar sinais em políticas reais, e não em meros adereços para fotos oficiais. O resto é só encenação de quem já declarou guerra ao povo e agora reclama de perder o palco.

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