luta socialista

Motta reafirma: “Democracia não se negocia e interesses pessoais não estão acima do povo”

A Câmara dos Deputados viveu mais um capítulo de sua ópera-bufa: enquanto deputados de oposição ocupavam o plenário em protesto contra a prisão domiciliar de Jair Bolsonaro, o presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), buscava reafirmar sua autoridade a qualquer custo. Entre ameaças de suspensão de mandatos, polícia legislativa de prontidão e um fecho intransigente das galerias, o espetáculo se desenrolou ao ritmo de gritos por “democracia” vindos de quem insiste em usar o parlamento como balcão de negócios.

A retomada da “autoridade” da Mesa

Em discurso inflamado logo após reassumir a Presidência, Motta garantiu que a democracia “não pode ser negociada” e que interesses pessoais jamais devem se sobrepor à vontade popular. Mas não é curioso ver representantes eleitos sob gritos de “defesa da democracia” recorrerem à intimidação para livrar o aliado de acusações?
“Não podemos deixar que projetos pessoais e até projetos eleitorais possam estar à frente do que é maior que todos nós: o nosso povo.” – Hugo Motta
A fala, ecoando no plenário silencioso pela desocupação, soou como um mantra retórico: um convite ao espetáculo autoritário travestido de defesa institucional. Depois de ameaçar cortar mandatos por seis meses e estacionar a polícia legislativa na porta, Motta enfim conseguiu abrir a sessão, deixando claro que seu “gesto de reafirmação da democracia brasileira” inclui fechar fisicamente as saídas a muitos que lutam por justiça social.

Negociações de bastidores e o embate no Plenário

No momento do embate direto, Marcel van Hattem (Novo-RS) sentou-se na cadeira do presidente, recusando-se a ceder o lugar. Num diálogo breve, quase cômico de tão previsível, Van Hattem levantou-se e permitiu que Motta reassumisse o posto. Com o acesso ao plenário bloqueado, o presidente afirmou que “essa Mesa não será refém de nenhum tipo de ameaça”. Mas quem ameaça quem, afinal?
Para justificar o cerco, Motta repetia que seu objetivo era fortalecer o Parlamento, sem perceber que o verdadeiro fortalecimento de qualquer Casa exige diversidade de vozes e respeito ao dissenso – coisas que a recente operação “Câmara blindada” parece não contemplar.

Deputadas com crianças no plenário

A confusão ganhou doses extras de escárnio quando deputadas do PL chegaram com seus bebês ao plenário ocupado. Julia Zanatta (PL-SC) fez questão de explicar nas redes:
“Plantão na Câmara dos Deputados para tomada de providências. Estou sentada na cadeira do presidente Hugo Motta. Ahhhh quantas coisas poderíamos fazer se o titular dessa cadeira tivesse coragem.” – Julia Zanatta
Diante das críticas, a deputada admitiu usar a criança como “escudo”:
“Os que estão atacando minha bebê não estão preocupados com a integridade da criança […] eles querem é inviabilizar o exercício profissional de uma mulher usando sim uma criança como escudo. Canalhas!” – Julia Zanatta
E não parou aí: Carol de Toni (PL-SC) também desfilou a filha pequena em meio ao tumulto, transformando o plenário num palco de polarização e cinismo.

Se a intenção era chamar atenção para um suposto cerceamento institucional, o efeito prático foi outro: escancarar a hipocrisia de quem grita “democracia” enquanto bloqueia a própria Casa contra a oposição e usa bebês como escudo político.

No meio do pandemônio, ficou claro que a busca por diálogo de Hugo Motta não passa de discurso de fachada. A verdadeira democracia requer debate amplo, participação popular e instituições que não se enclausurem em xadrezes de policialização e ameaças. Se a Câmara quer mesmo se fortalecer, que comece derrubando o muro da intransigência e abra espaço para a maioria social que clama por transformações de fato. Porque manter uma democracia só no discurso é sustentar privilégio de elite em detrimento dos direitos de milhões.

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