O Brasil voltou a ser lembrado pelo que realmente importa: suas riquezas estratégicas. Em plena corrida global por semicondutores, baterias e tecnologia verde, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, empurra o país para uma discussão que os entreguistas e neoliberais tanto fingiram não ver — o aproveitamento das terras raras e outros minerais críticos como alavanca de soberania, emprego decente e industrialização. É hora de levar a sério o debate sobre quem lucra com o subsolo brasileiro: os trabalhadores do país ou os bilionários estrangeiros e seus agregados locais?
Disputa global e soberania industrial
Os 17 elementos das chamadas terras raras, junto com nióbio, grafite e lítio, não são miçangas para exportação massiva sem retorno — são insumos de ponta para baterias, semicondutores e toda a cadeia da transição energética. Enquanto União Europeia, Estados Unidos e China transformam esses recursos em política industrial estratégica, aqui ainda ouvimos velhas ladainhas de que o Brasil só serve para exportar commodities. Exportar minério cru é assinar um cheque em branco às cadeias globais que capturam o valor agregado. “A simples exportação desses recursos mantém o país preso ao papel de fornecedor de matérias-primas, sem capturar o valor agregado da industrialização,” alertam especialistas — e bem que lembraram!
Haddad não disse nada de novo, disse o óbvio que neoliberais fingem que não existe: o Brasil tem que agregar valor. “O Brasil é rico em terras raras e minerais e precisa pensar. O padrão do Brasil é exportar commodities. Nós tínhamos que pensar numa forma de agregar valor. Simplesmente exportar minérios vamos reproduzir a lógica de empregos de qualidade duvidosa. Temos que agregar valor,” afirmou Fernando Haddad, ministro da Fazenda. Em tempos de crise do tal “tarifaço” e de chantagem geoeconômica, é um crime de lesa-pátria repetir o modelo de sempre.
A pressão externa já chega em forma de propostas: conversas com o governo Biden sobre joint ventures para produzir baterias no Brasil não são mera cortesia — são tentativa de cooptar nossas reservas para montar aqui fábricas que, no final, servem a interesses estrangeiros. Haddad quer — com razão — que o país negocie de igual para igual, e que essas parcerias venham com transferência tecnológica, conteúdo local e controle público. “Não podemos adiar esse debate, temos que precipitar esse debate. Concordo que tem que ser objeto de deliberação dos poderes da República,” disse o ministro, colocando o tema na agenda política que interessa à nação.
Não vamos repetir o papel de provedor de riquezas brutas para enriquecer investidores alheios; queremos indústria, tecnologia e empregos dignos.
Essa discussão não é só economia: é segurança nacional, é planejamento da transição energética e é defesa da soberania. Entregar nióbio, grafite e lítio ao primeiro comprador que aparece é replicar a colonização econômica com novo verniz. Precisamos de políticas públicas fortes: estatais atuantes, marcos regulatórios que garantam conteúdo nacional, desenvolvimento de cadeias produtivas e formação técnica para os trabalhadores — nada de privataria disfarçada de investimento.
O mapa mineral aponta para uma distribuição de potencial em pelo menos 12 estados brasileiros; isso significa que a riqueza pode ser descentralizada, levando emprego e desenvolvimento para além dos grandes centros. Mas só se houver vontade política e capacidade de enfrentamento das oligarquias e dos agentes do mercado que lucram com a exportação crua.
O momento é propício: há interesse externo, mas não podemos aceitar acordos que nos reduzam ao papel de fornecedor. É preciso transformar o potencial mineral em indústria, tecnologia, empregos e autonomia. O debate que Haddad propõe deve servir para derrotar as opções entreguistas do passado e construir um projeto nacional que faça do subsolo uma base de desenvolvimento soberano — sob controle público, com participação popular e sem dar cartas aos tubarões internacionais. É hora de ação; o país não pode esperar.