A escalada de arrogância política da família Bolsonaro volta a cobrar seu preço. Eduardo Bolsonaro, após meses de macumbas verbais e ameaças contra ministros do Supremo e contra empresas brasileiras, agora experimenta o clássico efeito bumerangue: o que ele atirou para longe voltou com força e ameaça engolir também o clã. Não é só retórica — há denúncias, sanções internacionais e um isolamento político que não é por acaso.
A Procuradoria-Geral da República apresentou denúncia por coação ao Judiciário contra Eduardo, e, como consequência imediata, o presidente da Câmara indeferiu sua indicação para líder da minoria. Resultado? O filho que tentou mandar na política como se estivesse num reality show perdeu carteirada. Enquanto isso, as medidas tomadas pelos Estados Unidos — incluindo a Lei Magnitsky aplicada à família do ministro Alexandre de Moraes e revogações de vistos para quem atuou no processo que tornou Jair Bolsonaro inelegível — mexeram com a negociação que vinha sendo costurada. A proposta de anistia que beneficiaria os envolvidos nas jornadas golpistas e no 8 de janeiro, que foi tratada como moeda de troca para livrar o pai, agora emperra.
Eduardo plantou ameaças e colheu sanções! O que parecia um plano para salvar Jair com artimanhas políticas e jurídicas esbarrou na reação do próprio sistema — dentro e fora do país. As novas medidas norte-americanas indignaram ministros do STF e também desorganizaram quem vinha negociando uma trégua no Congresso. A tal ponte entre o Legislativo e o Judiciário, construída por intermediários como Michel Temer, sofreu um terremoto: a tática de barganha perdeu base quando o mundo externo decidiu punir quem ataca a democracia.
Isolamento e consequências
O cerco não é apenas jurídico; é político e eleitoral. Líderes do centro-direita, que ainda sonhavam em usar a figura de Bolsonaro como fator de barganha eleitoral, começam a se distanciar. A tentativa de separar a ação política da família da defesa jurídica do ex-presidente sempre foi frágil — afinal, quem separa o faz olhando para outro planeta. E faltou combinar com Eduardo, que seguiu agindo como chefe de torcida radical, irritando aliados e antagonizando inimigos.
“A situação mudou, é preciso ‘repensar’”, declarou o ex-presidente Michel Temer à Globonews. Esse “repensar” diz muito: deixa claro que marionetes e manobras não bastam quando sanções atuam como freios internacionais. A visão míope de transformar o Congresso em arena de perdões e benesses para golpistas esbarra agora na realidade de consequências reais — pessoas, vistos e reputações sendo punidas.
Por trás do teatro, há uma lição política que deveria ser óbvia: a extrema-direita pode criar crises institucionais, mas não pode controlar as reações do mundo real. E quando suas investidas atingem a integridade do Judiciário e tentam fragilizar as instituições, a resposta vem de fora e de dentro. O bolsonarismo sempre apostou na polarização para sobreviver; agora vê que a polarização pode virar vendaval contra quem semeia ódio e ilegalidade.
Enquanto isso, a esquerda precisa aproveitar o momento. Lula e o PT não são apenas alternativa eleitoral: são a linha de frente de uma reação popular que pode transformar frágil pacificação em projeto democrático e anticapitalista de verdade. Defender estatais, serviços públicos e combater privatizações ganha camada adicional quando o adversário mostra que ataca a própria base institucional do país para salvar privilegiados. O bumerangue atingiu também Jair Bolsonaro!
Eduardo coleciona agora processos e rejeição; Jair, isolamento e uma estratégia jurídica sufocada. A crise da família que tentou governar com milícias verbais expõe o quão insustentável é apostar em impunidade. Se a direita quer reerguer-se, terá de limpar seu terreno — coisa que o bolsonarismo não sabe fazer. E nós, que lutamos por um projeto popular de verdade, precisamos manter acesa a exigência de justiça, memória e democracia, sem ilusões sobre quem tentou desmontar o país em nome de privilégios e do mercado. O recado está dado: quem brinca com as instituições acaba colhendo o próprio estrago.