A Polícia Federal deu mais um passo para desnudar a máquina golpista que vinha tentando corroer as instituições do país: indiciou Jair Bolsonaro e Eduardo Bolsonaro por coação e tentativa de abolição da democracia. Não é apenas um escândalo de bastidores — é o coração de um projeto autoritário sendo exposto em mensagens, áudios e rascunhos recuperados pela perícia. Enquanto a direita se faz de vítima, o que aparece é um roteiro de impunidade, articulação internacional e desprezo às regras mínimas do Estado de Direito.
Pedido de asilo e articulações externas
Entre os achados mais humilhantes para quem se dizia patriota, havia um rascunho de pedido de asilo para Javier Milei, da Argentina — ironia fina: fugir para o paraíso dos ultraliberais quando a própria extrema-direita em terra firme vira problema. Há também contato direto com representantes da plataforma Rumble e com advogados de Trump, em busca de narrativas e apoio político-judicial lá fora. Procurar salvaguardas em solo estrangeiro enquanto se destrói a própria nação é a face mais clara da traição política.
Anistia sob medida e a “anistia light”
As mensagens mostram que a tal anistia discutida por Eduardo não tinha sequer a pretensão mínima de abranger os envolvidos nos ataques ao Estado — tratava-se de salvar o próprio chefe. Eduardo fala em “anistia light” com a frieza de quem negocia um acordo para manter um clã acima da lei. Ainda há conversas sobre como aproveitar medidas internacionais, como a aplicação de sanções e a narrativa de perseguição política, para pressionar e chantagear aliados. Isso não é política, é um esquema de poder para proteger criminosos e golpistas.
Descumprimento, listas e a milícia digital
Apesar das medidas cautelares do STF, Bolsonaro trocou de aparelho e manteve intensa produção de conteúdo proibido; a PF identificou listas de transmissão com deputados e senadores, uso de terceiros para burlar proibições e até contas bancárias de esposas usadas para esconder recursos. O pastor Silas Malafaia, com celular e passaporte apreendidos, surge como articulador das campanhas de desinformação e mobilização. O ministro Alexandre de Moraes deixou claro o entendimento do STF sobre a gravidade: “A continuidade das investigações demonstrou fortes indícios de participação de Silas Malafaia na empreitada criminosa, de maneira dolosa e com unidade de desígnios com Jair Bolsonaro e Eduardo Bolsonaro” — Alexandre de Moraes. E a reação de Malafaia? “Vai ter que me prender para me calar” — Silas Malafaia. Ridículo e ameaçador ao mesmo tempo.
O relatório ainda exibe trocas grosseiras entre pai e filho, com xingamentos e pressões, além de indicações de que o ex-ministro Braga Netto manteve contato proibido com Bolsonaro. Há coordenação com atores internacionais, tentativa de usar a Lei Magnitsky como instrumento de guerra política e até pedidos de agradecimento público a Donald Trump por medidas que, em quem sabe, visavam a proteger o clã. Essa teia mostra como a extrema-direita articula negócios, mídia e litígios para tentar abafar a Justiça.
Por que isso importa
Esses indícios são a prova de que o bolsonarismo não é apenas um conjunto de decisões desconexas, é um projeto estruturado para colocar uma família acima das leis e para chantagear instituições. Não se trata apenas de “conversas de gente maluca”; trata-se de uma tentativa concertada de coagir ministros, manipular parlamentares e minar o próprio regime democrático. “As conversas mostram relações e atuações que tendem a caracterizar infrações penais” — resposta de integrantes da PF.
Se há algo para lutar agora, é para que a justiça avance sem tréguas e para que a política popular recupere as rédeas do país. Lula e o PT não são um fim em si, mas parte de uma etapa de recomposição da resistência democrática e popular — precisamos empurrar essa fase para além das urnas, construindo poder social, estatais fortes e políticas que desmontem as estruturas que geraram esse caos. A direita golpista mostra a cara: hora de responder com mobilização, organização e determinação para nunca mais permitir que bilionários e pastores deem ordens pelo WhatsApp enquanto o país arde.