A Interpol colocou oito foragidos da megaoperação contra o PCC na temida “difusão vermelha”: um aviso global para 196 países de que esses nomes devem ser procurados com prioridade. A ação internacional foi solicitada pela Polícia Federal depois que a operação Carbono Oculto — que expôs um esquema bilionário de adulteração e lavagem de dinheiro no setor de combustíveis — deixou no ar mais perguntas do que respostas: 14 mandados de prisão preventiva, apenas seis presos e suspeitas de vazamento que teriam atrapalhado a captura dos demais. Quem se beneficia com a impunidade? Quem lucra quando uma quadrilha se infiltra na Avenida Faria Lima como se fosse uma corretora qualquer? E por que o Estado, quando quer, precisa ficar tão às cegas?
Quem são os foragidos?
Entre os oito incluídos na lista vermelha da Interpol estão os supostos dirigentes do esquema que chegou a contaminar postos de combustíveis em todo o país: Mohamad Hussein Mourad — conhecido por apelidos como “João”, “Primo” ou “Jumbo” — apontado pelo Ministério Público como o epicentro da operação; e Roberto Augusto Leme da Silva, o “Beto Louco”, tido como colíder. Também figuram na lista Daniel Dias Lopes — descrito como “pessoa chave” por sua ligação com distribuidoras ligadas a Mohamad — e sua esposa Miriam Favero Lopes, sócia em empresas que aparecem na cadeia de lavagem. Completam a relação Felipe Renan Jacobs, Renato Renard Gineste, Rodrigo Renard Gineste e Celso Leite Soares. São cabeças que, segundo as investigações, comandaram uma teia que atravessou desde depósitos químicos até escritórios na Faria Lima.
O diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, reconheceu o tom desconfortável da operação: “uma certa estranheza”, disse ele sobre o número de foragidos e a eficácia esperada da corporação. A PF também apura se vazamentos de informações prejudicaram o cumprimento dos mandados — como se os vazamentos fossem casuais e não parte dos muitos privilégios que setores poderosos costumam desfrutar neste país.
O alcance da Carbono Oculto
A operação mobilizou 1.400 agentes em oito estados e foi anunciada como a maior da história do Brasil contra o crime organizado. As autoridades apontam sonegação de mais de R$ 7,6 bilhões em impostos e identificaram uma frente criminosa de importação irregular de produtos químicos usados para adulterar combustíveis. Foram mapeados mais de 300 postos flagrados nessas fraudes; o setor privado estima um estrago ainda maior: algo como 30% dos postos em São Paulo — cerca de 2.500 estabelecimentos — teriam sido afetados. Além disso, a Receita Federal detectou pelo menos 40 fundos de investimento, com patrimônio estimado em R$ 30 bilhões, controlados por estruturas ligadas ao PCC. Milhares de milhões circulando com o carimbo do crime e o verniz do mercado financeiro.
Os investigadores também apontam atuação dentro do mercado financeiro, com membros infiltrados na famosa Avenida Faria Lima — aquele cartão-postal do capitalismo tupiniquim onde o neoliberalismo veste terno e gravata e sorri para os cofres vazios do povo. Não surpreende que, em casos sensíveis, a divulgação pública de alguns nomes seja restringida por “razões estratégicas e de inteligência policial” — como já ocorreu anteriormente com figuras conhecidas que aparecem em investigações.
Enquanto isso, a Interpol lembra que a Difusão Vermelha é apenas uma das ferramentas disponíveis: a organização mantém bancos de dados com impressões digitais, DNA, documentos falsificados e até obras de arte, compartilhados entre as polícias dos países membros. A inclusão desses oito foragidos amplia o cerco internacional, mas não substitui a necessidade de investigação séria sobre como esses esquemas prosperaram aqui dentro.
O que fica evidente é a necessidade de um Estado forte, com controles robustos sobre o sistema financeiro e a cadeia de combustíveis — e de vontade política para enfrentar tanto o crime organizado quanto as complicidades que o permitem. Enquanto a direita comemora “meros ajustes” e privatiza o que deveria ser público, mafiosos e rentistas seguem armando seus negócios às custas do povo. Se queremos uma resposta à altura, precisamos transformar essa raiva em política, fortalecer as estatais e as instituições que de fato fiscalizam, e apoiar projetos populares que ataquem os privilégios — porque a negligência favorece só um lado: o do crime e do capital selvagem.