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Oposição na Câmara se junta durante início de julgamento no STF e intensifica pressão por anistia a golpistas

No mesmo dia em que o Supremo Tribunal Federal começou a julgar o ex-presidente Jair Bolsonaro pelo papel central na tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023, parlamentares da oposição se reuniram para articular exatamente o contrário do que o país precisa: querem empurrar pela Câmara um projeto de anistia que perdoa os condenados pelos ataques antidemocráticos. É a cara da direita golpista: enquanto o Judiciário faz seu trabalho, eles tentam criar um atalho parlamentar para impunidade. Que audácia — e que desespero!

Movimentação da oposição

A reunião aconteceu na manhã desta terça-feira na casa do líder do bloco na Câmara, o deputado Zucco (PL-RS), justamente enquanto o STF apreciava o chamado “núcleo crucial” da trama, com Bolsonaro e outros sete réus. A estratégia ficou clara: pressionar as cúpulas do Congresso — especialmente os presidentes da Câmara e do Senado — para pautar e votar um projeto que perdoa quem participou dos ataques. A direita quer transformar o Parlamento em guarita para seus comparsas; não é acaso nem improviso, é plano de sobrevivência política.

“Um homem tem palavra. A gente acredita que chegou a hora de ele cumprir a palavra”, declarou Zucco. O alvo imediato é o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB). Segundo Zucco, os líderes da oposição vão cobrar Motta na reunião de líderes marcada para a tarde. A expressão é simbólica: estão apostando no costumeiro clientelismo parlamentar para sepultar responsabilidades.

Enquanto isso, deputados como Sanderson (PL-RS) já contam com a narrativa pronta: “Há um argumento de que não teria como levar adiante um projeto de lei de anistia se não há condenação. Bem, essa semana ou semana que vem, esse teatro, essa farsa desse processo [no STF] deve ser levada adiante. Daí, nós teremos uma condenação [contra Bolsonaro e outros]”, disse Sanderson. Ou seja: tratam o julgamento como espetáculo manipulável, e a anistia como prêmio por encenar uma “condenação” que lhes convém. Ridículo e sinistro ao mesmo tempo.

Do outro lado, vozes de oposição democrática na própria Casa tentam conter a barca. “A gente sabe que tem pressão por parte da oposição, mas é um completo contrassenso e eu tenho certeza que o presidente Hugo Motta não entrará numa aventura como essa, porque o julgamento está acontecendo. Seria uma interferência abusiva e absurda por parte do Poder Legislativo pautar no primeiro dia do julgamento alguma coisa ligada à anistia”, declarou Lindbergh Farias, líder do PT na Câmara. Lindbergh tem razão: legislar para anular julgamentos é ataque institucional puro — e o PT precisa estar na linha de frente para barrar essa chantagem.

Articulação com o governo de SP

Como numa reunião de cúmplices, a ofensiva conta com o apoio do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que está em Brasília e tem se encontrado com aliados bolsonaristas. “entrou de cabeça”, afirmou o senador Flávio Bolsonaro sobre a participação de Tarcísio na articulação, segundo ele. Flávio também anunciou a intenção de apresentar uma nova proposta, descrevendo-a como “ampla, geral e irrestrita”. Traduzindo: anistia total para os que atacaram a democracia — um escárnio que não pode prosperar.

Presença no julgamento

Parlamentares bolsonaristas prometem ainda comparecer às sessões do STF nos dias seguintes, transformando o tribunal em palanque e a Justiça em espetáculo midiático. Bolsonaro, no entanto, não esteve presente no primeiro dia, em razão de problemas de saúde e prisão domiciliar. Mas isso não impede os aliados de tentar manobrar nos corredores do Congresso para salvar réus e proteger interesses.

A tentativa de anistia não é só impudência política; é ataque direto à ideia de responsabilidade e reparação. Não podemos aceitar que a impunidade vire política de Estado. Cabe ao campo democrático — e ao PT como central nessa disputa — barrar esse projeto e defender as instituições. Enquanto a direita arma suas cartadas desesperadas, é hora de somar forças, explicitar o risco autoritário e manter a pressão até que a democracia vença, completa e sem atalhos para golpistas.

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