Em mais um espetáculo de hipocrisia política, a oposição no Senado tenta transformar o caso do senador Marcos do Val (Podemos-ES) em um amparo universal para todos os parlamentares, como se a tornozeleira eletrônica imposta pelo ministro Alexandre de Moraes fosse uma ameaça ao “exercício do mandato”. A manobra recorre ao já conhecido “precedente Aécio” — quando, em 2017, a Casa derrubou o afastamento de Aécio Neves, mesmo diante de graves denúncias de corrupção. Que exemplo de seriedade e compromisso com a ética pública!
Para justificar esse conchavo, opositores afirmam que todo e qualquer ato do STF que imponha medidas cautelares a senadores só teria validade após aval do Senado. A comparação com Aécio Neves serve não para defender a moralidade, mas para estender um manto protetor sobre qualquer parlamentar enrolado, ainda que condenado a usar equipamento de monitoramento eletrônico. É a velha tática da politização das instituições para blindar os próprios interesses e manter o poder nas mãos de quem já saqueou os cofres públicos.
Alexandre de Moraes, diante das críticas, explicou que a tornozeleira não exige notificação ao Legislativo porque não impede o exercício do mandato — ao contrário das aspirações dos golpistas que insistem que um instrumento de controle judicial configure supressão de direito. Além disso, o senador também cumpre recolhimento noturno. Nada disso é novidade no mundo real, mas, para o show de horrores no plenário, basta qualquer “pretexto” para insuflar a narrativa de que o sistema de justiça estaria em afronta ao Parlamento.
Esse movimento, entretanto, não é um ato de “defesa do senador do Podemos”, como dizem alguns discursos ensaiados. É, isso sim, um ataque escancarado às instituições democráticas, uma tentativa de criar um “foro privilegiado absoluto”, em que corrompidos e investigados possam bradar: “Somente nossos pares podem nos punir!” Estamos diante de uma chantagem política: quem luta contra a impunidade é pintado como inimigo da democracia.
Enquanto isso, a direita bolsonarista e seus apêndices midiáticos comemoram cada passo dessa ofensiva. Fazem coro no Congresso, espalham fake news e acusam ministros do STF de “herdeiros de um projeto autoritário”. O objetivo é claro: desmoralizar o Judiciário para que as redes de corrupção e grandes empresários de direita continuem lucrando sem freio. E, no meio desse jogo sujo, o povo brasileiro segue perdendo direitos, enquanto estatais são desmontadas e privatizações ameaçam setores estratégicos do país.
É nesse cenário que o governo Lula se apresenta como alternativa. Diferente dos conluios tucanos ou das bravatas de ultradireita, o presidente e o PT apostam na reconstrução do Estado como defensor do interesse público, na valorização do papel das estatais e na retomada de políticas sociais que tiraram milhões da miséria. A bandeira da soberania nacional é até hoje o maior calo dos bilionários de direita e de seus bajuladores no Congresso.
A batalha, portanto, passa por fortalecer os instrumentos de controle e ampliar a participação popular. Sem concessões a chantagens ou barganhas dentro das casernas do Poder, o povo organizado deve reafirmar a centralidade do STF no combate à corrupção. A exigência de “carta branca” para parlamentares investigados não pode prosperar, sob pena de mergulharmos de vez em uma república de privilégios.
O caso de Marcos do Val mostra que, para desmantelar essa aliança nefasta entre banqueiros, ruralistas, mídia chapa-branca e políticos “intocáveis”, é preciso unidade das forças progressistas, pressão popular e mobilização nas ruas. Só assim, com o apoio de uma sociedade vigilante e de um governo comprometido com a justiça social, seremos capazes de barrar mais essa investida conservadora e avançar rumo a um Brasil democrático, soberano e verdadeiramente livre da corrupção.