O governo incluiu na proposta orçamentária enviada ao Congresso reservas para reajustes dos servidores do Executivo em 2026: R$ 12,1 bilhões correspondem a reajustes já negociados e há mais R$ 4,4 bilhões destinados a novas pactuações programadas para o ano que vem. A nota do Ministério da Gestão, publicada na sexta (29), detalha que esses movimentos fazem parte do aumento previsto das despesas com pessoal, que subirão de R$ 315 bilhões em 2024 para R$ 350,4 bilhões em 2026.
O que está no Orçamento e o que isso significa
Os acordos firmados em 2024 nas Mesas Específicas e Temporárias de Negociação contemplaram quase 100% dos servidores do Executivo: reajustes salariais e reestruturações de carreiras foram negociados, com pagamento da primeira parcela ainda neste ano, impacto de R$ 16 bilhões nas contas públicas. Historicamente, o caminho não é novo: em 2023 o Orçamento já havia reservado R$ 11,6 bilhões para reajustes, possibilitando o acordo que resultou no reajuste salarial de 9% assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e no aumento do auxílio-alimentação de R$ 458 para R$ 658 — lembram-se? No ano seguinte, embora não tenha havido reajuste salarial generalizado, o benefício alimentar subiu para R$ 1.000,00 e houve aumentos de 51,1% no auxílio-saúde e no auxílio-creche (de R$ 321 para R$ 484,90).
O governo justifica os valores como reflexo de compromissos já assumidos e de novas negociações programadas. Mas não se trata apenas de aritmética fiscal: trata-se de um confronto político. Quem sempre pintou o serviço público como gasto inútil e um monstro a ser privatizado agora é confrontado com uma realidade simples — sem Estado forte e serviços públicos valorizados, o país afunda. Reajustar servidores não é favores pessoais: é uma política pública essencial para manter o funcionamento do Estado em benefício da maioria.
É claro que os defensores das privatizações e os bilionários de sempre vão ranger os dentes — e vociferar sobre “gastos excessivos” enquanto protegem suas mordomias fiscais e monopólios. Não caiamos na armadilha do espetáculo moralista: exigir responsabilidade fiscal é legítimo, mas onde estava esse zelo quando bilhões foram doados a bancos e grandes corporações por meio de isenções e contratos públicos entregues a amigos? O debate verdadeiro é sobre prioridades: investir em carreiras públicas e serviços essenciais ou aprofundar a transferência de riqueza para o topo?
Os números no Orçamento mostram uma opção política clara: fortalecer o serviço público e cumprir acordos com servidores ou entregar o país aos interesses privados da direita mercantil. Para nós, que queremos uma transformação profunda, isso representa uma oportunidade e uma responsabilidade. Apoiar reajustes, reestruturar carreiras e valorizar benefícios que aliviam o custo de vida dos trabalhadores é parte da construção de um Estado popular, capaz de enfrentar o capital privado e oferecer alternativas reais ao mercado.
Porém, não basta celebrar reservas orçamentárias: é preciso vigilância e luta para que esses recursos se transformem em efetivos ganhos para a maioria, não em manobras contábeis para agradar gabinetes. O tempo das concessões à direita — que sacramenta cortes e privatizações em nome de um “ajuste” que só ajusta as contas dos ricos — precisa acabar. Lula e o PT têm papel central nessa nova etapa, mas cabe aos movimentos populares, servidores e à esquerda radical empurrar esse governo para além dos limites do compromisso eleitoral, rumo a políticas que confrontem de frente o poder econômico.
A conta é simples: investimento em servidores e serviços públicos é investimento na democracia e na soberania do povo. Se a direita chora por conta disso, ótimo — que chorem enquanto o país reconstrói uma base material para transformações sociais reais. Lutemos para que as promessas no papel virem salário na conta e serviços públicos de qualidade nas praças e nas comunidades!