A cúpula da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), realizada em Bogotá, não foi um evento protocolar — foi um recado claro à época das intromissões e ao discurso predatório dos poderosos. Num momento em que a Marinha dos Estados Unidos passeia seus navios de guerra pelo Caribe, quase como quem exibe brinquedos novos, os países amazônicos reagiram com firmeza: não aceitaremos que o combate ao crime vire desculpa para sapatear nossa soberania nem que a preservação ambiental sirva de pretexto para punir quem protege suas florestas.
Lula critica países ricos
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva esteve ao lado dos presidentes Luis Arce (Bolívia) e Gustavo Petro (Colômbia), e representantes de Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela. E fez o que se espera de um líder que se coloca do lado dos povos: apontou o dedo sem medo para a hipocrisia internacional. “Os países ricos usam o combate ao crime organizado como ‘pretexto para violar soberania’ de países menos desenvolvidos e utilizam a luta contra o desmatamento como ‘justificativa para medidas protecionistas’.” — Lula. Não é apenas retórica: é denúncia de uma política que mistura paternalismo com interesses econômicos e militares.
O desconforto veio quando os EUA mandaram embarcações de guerra para águas do Caribe próximas à Venezuela — sim, em águas internacionais, mas com efeito político óbvio sobre os países amazônicos banhados pelo Mar do Caribe. O governo brasileiro, com razão, costurou junto aos outros membros da OTCA a inclusão de capítulos sobre estratégias de segurança na Amazônia na declaração final. A intenção foi clara: traçar uma linha sem precisar citar nomes — embora todo mundo saiba a quem se refere. É preciso reagir quando potência militar tenta transformar o combate ao crime em desculpa para controle e intimidação.
A declaração da OTCA foi contundente ao reafirmar que a região precisa ser “livre de ameaças, agressões e medidas unilaterais, inclusive as coercitivas”. “Por meio de uma agenda de solidariedade cooperativa que respeite a soberania e a jurisdição dos Estados-membros, fortalecendo as capacidades nacionais e coordenando esforços para proteger a Amazônia e garantir os direitos de seus povos.” — declaração da OTCA. Traduzindo: autonomia, cooperação entre países da região e respeito às populações indígenas e tradicionais. Ponto.
Fundo para florestas
Outro ponto central foi o apoio ao Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), iniciativa brasileira que será lançada em novembro, em Belém, durante a COP 30. O fundo pretende captar recursos de países, empresas e entidades para financiar esforços de conservação em países em desenvolvimento — inclusive, claro, a nossa Amazônia. Lula, desde o início do seu terceiro mandato, tem cobrado que os países ricos cumpram com as promessas financeiras para preservação ambiental, transição energética e desenvolvimento sustentável. A nota da OTCA também conclamou os “potenciais países investidores a anunciar contribuições substantivas” para o TFFF.
Isso tudo ocorre num cenário onde a direita raivosa e neoliberal, representada por um conglomerado de forças que vão do bolsonarismo aos interesses empresariais internacionais, ainda tenta privatizar, desmatar e vender nosso futuro. Nós do campo popular não caímos nessa narrativa! Salvar florestas é também salvar vidas e territórios, não negócio para especuladores e bilionários.
A cúpula em Bogotá mostrou que existe alternativa à submissão: articulação regional, defesa da soberania e insistência em modelos de financiamento que não condicionem nossa autonomia. Se há quem ache que a Amazônia é palco para manobras geopolíticas ou balcão de negócios, os povos amazônicos e seus governos disseram não — com firmeza e com um projeto de preservação que respeita direitos e promove desenvolvimento. Que fique claro: não aceitaremos sermos peça de xadrez nas mãos dos mesmos que promovem desigualdade e destruição ambiental.