O debate que se abriu nas redes depois do vídeo viral de Felca não é casual: expõe a face mais podre do capitalismo digital, onde algoritmos e monetização transformam crianças em produto. Parlamentares reagiram com pedidos de CPI no Senado e na Câmara para investigar a chamada “adultização” e a possível exploração sexual de menores nas plataformas — e a bola agora está com os presidentes das casas legislativas. Como militante, pergunto: até quando iremos permitir que a ganância das plataformas e a conivência das elites prefiram lucro a proteção infantil?
O que os pedidos de CPI propõem
No Senado, o requerimento subscrito pelos senadores Jaime Bagattoli (PL-RO) e Damares Alves (Republicanos-DF) já reuniu 70 assinaturas — muito acima das 27 necessárias para protocolar — e pede a investigação de três pontos centrais: a atuação de influenciadores e plataformas na promoção de conteúdos que sexualizam crianças; a relação entre o conteúdo de influenciadores como Hytalo Santos e a potencial exploração sexual de menores; e a efetividade das políticas de proteção à infância no ambiente digital e a resposta das autoridades a denúncias de pedofilia online. “O caso de Hytalo Santos, mencionado em diversas apurações, exemplifica a vulnerabilidade das crianças e adolescentes nas plataformas digitais. As reportagens indicam um padrão preocupante que pode estar contribuindo para a normalização da sexualização infantil e a exposição inadequada de menores a conteúdos prejudiciais”, justificaram os autores.
Na Câmara, o deputado Pastor Henrique Vieira (PSOL-RJ) protocolou requerimento semelhante. “Estamos diante de graves violações de direitos. É dever do Congresso investigar, responsabilizar e criar mecanismos para que empresas de tecnologia e influenciadores cumpram a lei e respeitem a dignidade das nossas crianças e adolescentes”, afirmou o deputado. A comissão proposta na Câmara teria 54 membros e prazo de 120 dias, o mesmo prazo previsto pelo Senado — se os presidentes Davi Alcolumbre (Senado) e Hugo Motta (Câmara) aceitarem dar seguimento aos pedidos.
As CPIs têm poderes para convocar depoentes, requisitar documentos e até quebrar sigilos: não é teatro — é instrumento de investigação com força semelhante à judicial.
Origem do debate: o vídeo de Felca e o algoritmo P
O estopim foi um vídeo de quase 50 minutos do influenciador Felipe Bressanim Pereira (Felca), já com quase 30 milhões de visualizações, denunciando como mecanismos de monetização e algoritmos alimentam a exploração de crianças. Felca detalha um padrão que chamou de “algoritmo P”, mostrando como perfis de meninas são direcionados para públicos predatórios por meio de recomendações e seções de comentários que viram verdadeiros pontos de encontro de abusadores. No exemplo citado, uma criança de 8 anos recebia comentários e visualizações majoritariamente compostos por pedófilos — uma cena que exige resposta firme do Estado e da sociedade.
Hytalo Santos, citado nas investigações, já era alvo de apuração pelo Ministério Público da Paraíba antes mesmo das falas de Felca. Ou seja: não é esquema isolado ou invenção de embaixada moralista, é um padrão que surge quando o lucro privado ocupa o centro da regulação da infância.
Não é questão de “conteúdo controverso”: é crime e exploração, e o Estado tem que agir com firmeza contra as cadeias que lucram com isso.
O que nos preocupa, além da barbárie nas redes, é a hipocrisia política: figuras do campo conservador que se escandalizam seletivamente enquanto sustentam políticas que enfraquecem o poder público e entregam regulação às corporações. Contra isso, precisamos de um projeto popular que fortaleça estatais, regule plataformas e puna sem dó quem lucra com a degradação de crianças.
O caminho passa por pressão popular, investigação séria e políticas públicas robustas — e por uma Frente que não se contente com consertos corporativos. Lula e o PT, para nós da Luta Socialista, devem ser mais do que opção eleitoral: são centrais para articular uma nova etapa de enfrentamento ao capitalismo predatório que transforma vidas em cliques. Vamos cobrar das CPIs que ido além de manchetes: querem respostas, querem punição e querem proteção efetiva para nossas crianças. Quem lucra com a exploração tem nome — e precisa ser desmascarado e responsabilizado.