A pesquisa Datafolha divulgada neste sábado confirmou o que muita gente já pressentia: metade do país apoia a prisão de Jair Bolsonaro. O levantamento ouviu 2.005 eleitores entre os dias 8 e 9 e mostra que 50% se colocam a favor da execução da pena, enquanto 43% são contrários e 7% não souberam opinar. Em outras palavras: há um Brasil que quer ver a lei valer para todos e outro, ainda embalado na fantasia golpista, que não aceita a derrota. E enquanto a aritmética da justiça segue seu curso, a política ferve — para alegria das esquerdas organizadas e para pânico das oligarquias.
O julgamento e as penas
Na quinta-feira (11), a Primeira Turma do STF impôs a pena de 27 anos e três meses, em regime inicial fechado, ao ex-presidente Jair Bolsonaro por sua participação na trama golpista. O julgamento começou na segunda-feira (8) e resultou em condenações por cinco crimes: organização criminosa (7 anos e 7 meses), abolição violenta do Estado Democrático de Direito (6 anos e 6 meses), tentativa de golpe de Estado (8 anos e 2 meses), dano qualificado (2 anos e 6 meses) e deterioração de patrimônio (2 anos e 6 meses). No total somaram-se 27 anos e 3 meses e 124 dias-multa, cada um no valor de dois salários mínimos. Dos 27 anos e 3 meses, 24 anos e 9 meses são de reclusão — penas que levam ao regime fechado — e 2 anos e 6 meses são de detenção, relacionadas a regimes semiaberto ou aberto. Como a pena total ultrapassa 8 anos, o início do cumprimento, em tese, deveria ser em regime fechado.
Mas calma: nós sabemos como o sistema jurídico é manipulado por poderosos. A execução da pena não é imediata; a defesa ainda pode apresentar recursos que passarão pelo crivo do STF. Enquanto isso, o ex-presidente permanece em prisão preventiva, porém em regime domiciliar, por descumprimento de medidas determinadas pelo ministro Alexandre de Moraes. A corda da impunidade está mais curta — mas não cortada — e a batalha jurídica seguirá. Essa condenação é histórica — pela gravidade do que foi julgado e pelo teto que impõe às aventuras golpistas.
A decisão da turma do STF tem um simbolismo político profundo. Nunca antes na história republicana um ex-presidente foi condenado por crimes que compõem uma trama para subverter a democracia de forma tão explícita. Isso não é apenas uma derrota pessoal de Bolsonaro; é um recado para todo o bolsonarismo: a normalização da violência política e da sabotagem das instituições não será tolerada sem consequências.
E o que dizem as ruas? A resposta do Datafolha mostra um país dividido, mas com uma fatia significativa apoiando o cumprimento da lei. Metade da população dizendo “sim” à prisão mostra que a democracia ainda tem defensores ativos — e isso precisa ser capitalizado politicamente. Como socialistas, não podemos confundir essa vitória jurídica com o fim da luta. A direita moleque vai tentar transformar a sentença em espetáculo, vai convocar ódio e narrativas de perseguição. E aí? Vamos recuar?
É hora de radicalizar a defesa da democracia e avançar em um projeto popular consistente. Lula e o PT têm papel central nessa nova etapa: não apenas como alternativa eleitoral, mas como eixo de um movimento capaz de ampliar direitos, defender estatais, barrar privatizações e enfrentar a concentração de riqueza desses bilionários que financiaram o bolsonarismo. Não se trata de celebrar satisfações: trata-se de construir poder social e político para que episódios como esse não se repitam. A direita precisa ser desmantelada politicamente — e nós temos os instrumentos para isso: organização, classe trabalhadora mobilizada e um projeto que devolva o país ao povo. Está na hora de transformar essa condenação em impulso para uma ofensiva popular e democrática.