A pesquisa Ipsos-Ipec divulgada nesta terça-feira revela o que muita gente já desconfiava: a maioria do país não engole o teatro de agressão comercial montado por Washington e percebe ali uma jogada política bruta. O levantamento mostra que 75% dos brasileiros acreditam que o tarifaço de Donald Trump sobre produtos brasileiros é motivação política; 49% defendem que o Brasil deve retaliar; apenas 12% o veem como uma questão puramente comercial. Isso não é simples “atrito comércio”, é ataque geopolítico com objetivo claro — e a resposta popular já começa a apontar para a necessidade de firmeza do governo e da resistência social.
O tarifaço em números e quem paga a conta
O tal tarifaço, que entrou em vigor em 6 de agosto, prevê sobretaxa de 50% sobre produtos brasileiros exportados aos EUA e pode atingir até US$ 23,9 bilhões — a maior parte dos US$ 42,3 bilhões que vendemos aos americanos. Curiosamente, a Casa Branca também liberou uma lista de exceções que põe uma espuma de proteção sobre US$ 18,4 bilhões (43,4% do total), deixando cerca de 3,8 mil itens ainda sujeitos às novas taxas. O levantamento foi feito entre 1º e 5 de agosto, com 2 mil entrevistas em 132 cidades; margem de erro de 2 pontos percentuais e nível de confiança de 95%.
O que chama atenção é que, em plena diversidade regional e socioeconômica, a leitura política do ataque é majoritária — e não por acaso. Entre pessoas de 45 a 59 anos, 80% veem motivação política; nas regiões Nordeste e Sudeste, 77% em cada uma; Norte/Centro-Oeste 71%; Sul 72%. A percepção atravessa crenças religiosas: 76% entre católicos, 74% entre evangélicos. Na divisão por renda, quem ganha até 1 salário mínimo: 77%; de 1 a 2 salários: 76%; de 2 a 5: 77%; acima de 5 salários: 70%. Isso mostra que o sentimento de afronta à soberania nacional e às cadeias produtivas é transversal — não é pauta de elite nem de minorias.
A inflação diplomática não é neutra: atinge empregos,, renda e projetos estratégicos do país. O caráter político dessa medida é visível: não se trata apenas de “corrigir desequilíbrios comerciais”, mas de pressionar governos que ousam ter protagonismo global ou que se colocam em rota de colisão com interesses das oligarquias internacionais. E quem comemorou e alimentou a submissão ao capital estrangeiro nos últimos anos — olá, bolsonarismo e seus cúmplices neoliberais! — agora tem o rabo de fora.
A pesquisa também mostra desgaste da imagem dos EUA entre os brasileiros: antes do tarifaço, 48% achavam a imagem americana “ótima” ou “boa”, 28% “regular” e 15% “ruim” ou “péssima”. Depois do episódio, 38% dizem que a imagem piorou, 6% que melhorou e 51% que permanece a mesma. O imperialismo não precisa só de tanques; às vezes lhe basta uma canetada e um anúncio para botar em risco fábricas, empregos e dignidade nacional.
É hora de colocar na ordem do dia uma resposta clara: medidas de defesa comercial, apoio às empresas nacionais, proteção às cadeias de valor que empregam milhões e, principalmente, uma política externa soberana que não se curve a chantagens! Lula e o PT têm diante de si o papel de liderar essa ofensiva democrática e social, articulando solidariedade internacional e fortalecendo as estatais e o projeto nacional-popular — porque vender a pátria por migalhas é programa da direita entreguista, não do povo brasileiro. Se os EUA querem guerra econômica, que encontrem do outro lado um Brasil organizado, com Estado forte e povo nas ruas e nas fábricas defendendo cada emprego e cada centavo de nossa soberania.