A pesquisa Ipsos-Ipec divulgada nesta quinta-feira revela algo óbvio para quem acompanha as redes: a maioria das pessoas quer proteger crianças e adolescentes dos absurdos que viralizam por ali. Não é sinal de censura fácil — é vontade popular de civilidade básica contra a exploração digital e a mercantilização da infância. Enquanto a direita vocifera contra qualquer regulação e as grandes plataformas lucram com cliques, o povo brasileiro diz com clareza o que deve ser prioridade nas redes.
O que diz a pesquisa
Os números são contundentes: 88% dos brasileiros defendem que as redes sociais removam conteúdos que incentivem a adultização de crianças e adolescentes e a mesma parcela entende que o uso da imagem de menores com fins comerciais deveria ser regulado rigidamente por lei. Além disso, 89% afirmam que os pais deveriam ser legalmente responsabilizados quando transformam imagens e vídeos dos filhos em fonte de renda; 89% também consideram que a exposição excessiva em vídeos digitais prejudica o desenvolvimento emocional e psicológico de crianças e adolescentes. Outros dados: 87% defendem obrigação legal para que plataformas implementem mecanismos de prevenção, e 85% acham que crianças até 12 anos deveriam ser proibidas de acessar redes sociais.
A pesquisa aponta ainda um dilema percebido por boa parte da população: 65% acreditam, ao menos parcialmente, que regular redes fere a liberdade de expressão, mas 79% dizem que a defesa das crianças contra a adultização é mais importante do que essa liberdade. “Os dados apontam um consenso social a favor de medidas preventivas e de responsabilização compartilhada entre famílias e plataformas. Ao mesmo tempo, a percepção de risco à liberdade de expressão sugere que políticas de regulação devem ser claras, proporcionais e com salvaguardas, priorizando a proteção de crianças e adolescentes sem suprimir manifestações legítimas”, afirma Marcia Cavallari, diretora da Ipsos-Ipec.
O levantamento foi feito entre 4 e 8 de setembro, com 2 mil pessoas em 132 cidades; margem de erro de dois pontos percentuais e nível de confiança de 95%. Sobre conhecimento do tema, 57% dizem conhecer muito ou um pouco sobre o que é adultização, enquanto 40% conhecem pouco ou nada — o desconhecimento é maior entre quem tem Ensino Fundamental, entre pessoas de 45 a 59 anos e entre quem recebe até um salário mínimo. Os exemplos que mais caracterizam a adultização, segundo os entrevistados, são exposição com roupas incompatíveis com a idade (49%) e comportamento sexualizado em danças e poses (44%).
O debate ganhou força depois do vídeo viral do influenciador Felca, e, pasmem, houve até oportunidade política: o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), decidiu pautar a proposta — lembrando como temas sensíveis viram manchete e moeda de troca para alguns parlamentares. E foi o presidente Lula quem sancionou a lei que combate a adultização na internet e impõe regras a provedores: vinculação da conta de menores a um responsável, remoção de conteúdo abusivo e outras obrigações às plataformas. Lula sancionou a lei que combate a ‘adultização’ de crianças na internet, uma medida necessária e urgente — e que deveria ser apenas o primeiro passo de uma política pública de proteção à infância nas redes.
Essa vitória política é também um sinal de que o Estado pode e deve agir contra a voracidade das plataformas e dos exploradores digitais — e não, não é “cerceamento” quando o que está em jogo é proteger crianças da mercantilização sexual e psicológica. Enquanto a direita clama por mercado livre até para devorar infância, nós precisamos defender regulação firme, fiscalização pública e responsabilização — dos pais exploradores, das plataformas que lucram com tudo isso e dos que promovem esse espetáculo degradante. Se queremos uma sociedade decente, impor limites é obrigação. E combater a cultura do clique predatório é parte essencial da luta por um projeto popular que respeite vida, infância e futuro.