A nova rodada da Quaest, realizada entre 13 e 17 de agosto e divulgada entre 20 e 22, traz um recado claro: o governo Lula respirou melhor com o alívio no bolso do povo e a resposta firme ao “tarifaço” de Trump — e a direita pagou o preço desse desgaste. A pesquisa, encomendada pela Genial Investimentos, ouviu 12.150 pessoas (margem de erro de dois pontos) e foi feita antes dos indiciamentos de Jair e Eduardo Bolsonaro, ou seja, capturou uma temperatura política já favorável ao governo, mas também em transformação.
O que a pesquisa diz para Lula?
Os números são objetivos: a aprovação de Lula subiu para 46% enquanto a desaprovação caiu para 51% — a melhor avaliação desde janeiro. Isso mostra que política pública que chega ao prato do trabalhador reverte narrativa e refaz maiorias. A queda na percepção de alta dos alimentos foi central: quem dizia que os preços subiram caiu de 76% para 60%, e os que percebem queda subiram de 8% para 18%. Felipe Nunes: “É o supermercado, estúpido! Depois de mais de um ano e meio, a parcela de brasileiros que percebe alta no preço dos alimentos caiu para perto de 60%. Esse alívio no bolso impulsionou a popularidade do governo, sobretudo entre os mais pobres.”
A recuperação foi sentida especialmente entre os que ganham até dois salários mínimos — aprovação saltou de 46% para 55% nesse segmento — e também entre eleitores com ensino fundamental, católicos, idosos e moradores do Nordeste. Lula voltou a liderar em todos os cenários de primeiro turno e abriu vantagem em vários possíveis segundos turnos, inclusive sobre Tarcísio de Freitas, com quem aparecia tecnicamente empatado em julho. Os números mostram que recuperar direitos e proteger o mercado interno é caminho para construir força social e eleitoral.
Além do fator supermercado, a resposta do governo ao ataque protecionista de Trump foi outro motor de aprovação. Para 48% dos entrevistados, Lula e o PT estão se saindo melhor nesse embate contra os EUA; apenas 28% apoia Bolsonaro e aliados nessa questão. A maior parte (51%) acredita que as tarifas tiveram motivações políticas, e 64% temem que isso encareça alimentos no Brasil. Felipe Nunes: “A oposição ficou ‘intoxicada’ pelo tarifaço, que elevou a percepção negativa sobre políticos alinhados ao ex-presidente Bolsonaro.”
O que a pesquisa diz para a oposição?
A direita amarga um recado duro: o tarifaço não apenas afeta a economia como contaminou a imagem dos seus nomes. Tarcísio perdeu terreno em vários estados e viu sua rejeição subir de 33% para 39%. Em alguns cenários, a diferença entre Lula e Tarcísio dobrou de 4 para 8 pontos. Bolsonaro, mesmo inelegível até 2030, segue com alta rejeição (57%) e tornou-se o pré-candidato mais rejeitado; 47% dizem ter mais medo de seu retorno.
A disputa interna da direita mostra confusão: Michelle, Tarcísio e Ratinho Jr. aparecem como alternativas, mas nenhuma figura consolida um projeto de oposição capaz de unificar e conter a expansão de Lula. Resultado? Uma direita fragmentada, com desgaste e sem agenda social crível para disputar o voto popular.
O quadro que emerge é duplo: por um lado, a vitória tátil de políticas que aliviam a vida do povo — queda na percepção dos preços e reação contra o tarifário de Trump — devolve fôlego político ao governo. Por outro, a direita, especialmente seus braços bolsonaristas, coleciona autoatentados eleitorais ao persistir no projeto neoliberal e na capitulação a interesses externos.
Se quisermos sair da retórica e ir para a luta concreta, é hora de consolidar esse alívio em políticas permanentes: subsídios inteligentes, controle de preços estratégico, fortalecimento da agricultura familiar e defesa das estatais produtoras de alimentos. A batalha por uma base social firme passa pelo pão, pelo prato e pela soberania — e não por negociatas e capitulações que beneficiam bilionários e humilham trabalhadores.