A Polícia Federal colocou no papel o que muita gente já desconfiava: pai e filho Bolsonaro tentaram transformar relacionamentos internacionais em moeda de chantagem para salvar privilégios, frear processos e atacar a democracia brasileira. Não se trata de mera diplomacia desastrada — é uma operação política com claras intenções de coação, e agora o caso segue para a Procuradoria-Geral da República. O país precisa ver com clareza o tamanho do escândalo: trata-se de tentar instrumentalizar governos estrangeiros para interferir em questões judiciais internas. Inaceitável!
PF indicia Bolsonaro e Eduardo por coação
As mensagens obtidas pela PF pintam um quadro de estratégia deliberada: Eduardo Bolsonaro orientava o pai a segurar comentários e manipular narrativas para não atrapalhar o trabalho de convencimento junto ao então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Em uma das conversas, o deputado chega a pedir discrição em relação a uma imagem que não foi periciada pela polícia. “Torce para a inteligência americana não levar isso aqui ao conhecimento do Trump”, diz trecho de mensagem atribuída a Eduardo Bolsonaro, conforme o relatório da PF.
Os investigadores entendem que o objetivo não era apenas ganhar apoio político externo, mas induzir autoridades estrangeiras em erro, pedindo que aplicassem sanções contra o Estado brasileiro e ministros do Supremo Tribunal Federal, na tentativa de interromper julgamentos que atingiam aliados. A PF conclui que os investigados atuaram com consciência e vontade no intuito de convencer autoridades governamentais estrangeiras, induzindo-as em erro, para aplicar sanções contra o Estado brasileiro e autoridades nacionais constituídas. Essa não é mera especulação retórica: é a avaliação formal de quem analisou as comunicações e as evidências.
Em outra passagem das trocas, Eduardo acalma o pai sobre o risco de prisão — sem deixar de deixar claro o quanto as medidas nos Estados Unidos poderiam atrapalhar seus planos: “aqui é tudo muito melindroso, qualquer coisinha afeta”, escreveu o deputado, e acrescentou que, naquela conjuntura, o ex-presidente “nem precisa se preocupar com cadeia, você não será preso, mas tenho receio que por aqui as coisas mudem” — um alerta que mistura cinismo e manipulação política.
O relatório da Polícia Federal, enviado pelo ministro Alexandre de Moraes à PGR para avaliação sobre nova denúncia contra pai e filho, destaca que há provas fartos sobre tentativas de convencer Donald Trump a agir contra o Brasil e contra ministros do STF. Segundo os investigadores, Eduardo chegou a deturpar fatos com o objetivo de alcançar interesses ilícitos. Não é patriotismo — é oportunismo conjugado com audácia criminosa.
É revoltante ver como a família que pregava “patriotismo” tentou usar potências estrangeiras para satisfazer interesses pessoais e proteger uma base de poder comprometida com milícias, privilégios e ataques às instituições. A cena é emblemática: candidatos do bolsonarismo se prestando a manobras internacionais para escapar de processos no Brasil. Quem diria que o fio condutor entre o bolsonarismo e a política externa seria a chantagem?
Enquanto isso, a esquerda e os democratas precisam reagir politicamente, aproveitar esse momento para desmascarar de vez a hipocrisia da direita e construir uma alternativa popular séria. Lula e o PT não são apenas opções eleitorais: hoje se colocam como centrais na organização de uma frente democrática que resista a esse tipo de audácia conservadora. A tarefa é clara: derrotar eleitoralmente e desmantelar politicamente a direita que tentou transformar o Brasil em refém de acordos espúrios.
O envio do relatório à PGR é só mais um capítulo. Resta agora à instância competente decidir se apresenta nova denúncia ao Supremo — e cabe à sociedade acompanhar, cobrar transparência e não deixar que interesses pessoais se sobreponham à soberania nacional. Afinal, se a tentativa de subornar a política com mensagens e pressões externas não for investigada até o fim, qual será o próximo passo dessa turma que já provou que não respeita limites? Quem protege a democracia, se não nós mesmos em luta?