A megaoperação contra o esquema bilionário ligado ao Primeiro Comando da Capital (PCC) expôs ontem não só a face criminosa de um mercado de combustíveis apodrecido, mas também as fragilidades operacionais e políticas do Estado. Enquanto a força-tarefa da Polícia Federal, Receita e polícias estaduais se movimentava em oito estados, resultando na apreensão de toneladas de documentos e provas, a notícia que circulou com mais força foi outra: a maioria dos alvos simplesmente não foi encontrada. Isso acendeu o sinal vermelho sobre possível vazamento de informações — e mostrou que, quando o Estado age, precisa agir com transparência, firmeza e sem deixar brechas para os amigos do poder e para os milionários que lucram no escuro!
Resultado ‘atípico’ e suspeita de vazamento
A própria PF admite estranheza no balanço: de 14 mandados de prisão preventiva, só seis foram cumpridos. “Se houver indício de vazamento, vamos investigar. Apenas 6 dos 15 mandados de prisão foram cumpridos, não é uma estatística normal, com o retorno das equipes aí sim a gente vai ter mais elementos para inferir que possa ter havido vazamento”, disse Andrei Rodrigues, diretor‑geral da Polícia Federal, nomeado pelo governo Lula. Um delegado envolvido na operação resumiu o desconforto da tropa: “É totalmente atípico em nossas operações acontecer isso. Prender menos do que se deveria. Geralmente, escapa um ou outro. E não a maioria como agora. Temos que investigar o porquê disso”, afirmou. Quando a maioria dos alvos consegue escapar, não é mero azar — é um sintoma de infiltração, conivência ou de falhas graves na segurança da informação.
Apesar do revés nas prisões, os policiais comemoram o material apreendido, que promete aprofundar investigações sobre lavagem de dinheiro, sonegação e o elo entre narcotráfico e corrupção. E ninguém aqui deve confundir apreensão de papel com justiça efetiva: sem os presos‑chave, o esquema pode permanecer resistente. A tarefa agora é clara: identificar vazamentos, punir os responsáveis e não deixar que uma operação gigante vire espetáculo vazia para a imprensa.
A megaoperação e os alvos
A operação Carbono Oculto mobilizou cerca de 1.400 agentes e é descrita como a maior ação da história do país contra o crime organizado no setor de combustíveis. Segundo a Secretaria da Fazenda de São Paulo, o grupo teria sonegado mais de R$ 7,6 bilhões, atuando em importações irregulares, adulteração de combustíveis e uma vasta rede de postos — mais de 300 identificados na adulteração e até 30% dos postos paulistas potencialmente envolvidos (estimando-se 2.500 estabelecimentos).
Prisões cumpridas: João Chaves Melchior (ex‑policial civil); Ítalo Belon Neto; Rafael Bronzatti Belon; Gerson Lemes; Thiago Augusto de Carvalho Ramos; Rafael Renard Gineste.
Prisões não cumpridas (entre elas nomes apontados como líderes e ‘pessoas‑chave’): Mohamad Hussein Mourad, conhecido como “João”, “Primo” ou “Jumbo”; Roberto Augusto Leme da Silva, o “Beto Louco”; Daniel Dias Lopes; Miriam Favero Lopes; Felipe Renan Jacobs; Renato Renard Gineste; Rodrigo Renard Gineste; Celso Leite Soares.
Sobre a integração entre as frentes de investigação, Rodrigues buscou acalmar a narrativa: “O que houve foi a sincronização dessas três ações, não há conflito [com a operação do MP de SP]. Há integração das três operações, que poderiam acontecer em momentos diversos, mas com prejuízo. Trabalhamos em absoluta harmonia”, afirmou o diretor‑geral da PF.
É legítimo — e necessário — que a esquerda combativa que somos cobre eficácia e transparência. Não nos conformamos com espetáculos midiáticos que encobrem cordões que ligam criminosos a grandes interesses econômicos. A direita golpista e seus bilionários torcem para que o Estado seja frágil quando os poderosos são atingidos; nós, defensores das estatais e de um Estado forte e democrático, queremos investigação até o fim e punição exemplar.
Se houve vazamento, que se descubra quem abriu as portas do clube. Se faltou articulação, que se assuma e se corrija. E se essa operação provar algo, é que o combate ao crime organizado passa também pelo enfrentamento aos grandes interesses econômicos que se beneficiam da impunidade. O país precisa de regras claras, soberania sobre recursos estratégicos e instituições que atuem para os trabalhadores — não para os mafiosos e para os bilionários de direita. Quem quer transformação sabe: essa luta é política, institucional e popular. Vamos cobrar resultados!