A megaoperação da Polícia Federal contra um esquema bilionário no setor de combustíveis expôs algo que já deveria ser óbvio: o crime organizado não precisa mais enterrar malas de dinheiro no mato — ele se esconde dentro do próprio sistema financeiro que neoliberalismo e privatizações ajudaram a consolidar. A investigação aponta que o PCC usava instituições e fintechs para lavar dinheiro, mascarar transações e ocultar patrimônio, e até agora, dos 14 mandados de prisão preventiva expedidos, apenas 6 foram cumpridos. O detalhe é inquietante: alguns dos principais alvos conseguiram escapar, e isso acende um alerta sobre vazamento de informações ou infiltração. “É totalmente atípico em nossas operações acontecer isso. Prender menos do que se deveria. Geralmente, escapa um ou outro. E não a maioria como agora. Temos que investigar o porquê disso. Se houve vazamento de informações e de onde”, disse um investigador da operação.
A cena é grave: viaturas da PF e da Receita Federal na Faria Lima, buscas que recolheram material considerado “farto e relevante” e apreensões que podem revelar novos grupos envolvidos em adulteração de combustíveis e sonegação de impostos. Não é só um escândalo policial — é um sintoma da maneira como capitais sujos se integraram ao mercado formal, alimentando lucro para poucos e prejuízo para toda a sociedade. **Enquanto bilionários e operadores financeiros celebram, quem paga a conta são os trabalhadores e o consumidor.** É mais um capítulo do que chamo de “mercado que protege os seus”.
Rastreamento de fintechs
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, colocou o dedo na ferida e prometeu que o crime organizado terá menos espaço para esconder fortunas. “Usaremos a Inteligência Artificial que já dispomos para rastrear e acompanhar o que entra e o que sai das fintechs. Quem abastece as contas, como se dão as movimentações, para onde foi o dinheiro. Quem está fazendo o quê”, afirmou Haddad, garantindo que essas empresas serão monitoradas com o mesmo rigor aplicado aos bancos tradicionais. Em outro trecho, reforçou: “Tudo isso a nossa IA vai pegar e vamos para cima de quem estiver fazendo coisa errada. Vamos seguir o dinheiro do criminoso”.
Ótimo que o governo reconheça a importância de ações tecnológicas e fiscais — e aqui cabe um aplauso pragmático a Haddad e à equipe econômica do PT por enfrentar a questão. Mas atenção: tecnologia sem vontade política e sem reestruturação do sistema financeiro será apenas mais um tapa no problema. **Não adianta caçar o elo criminoso do outro lado da rua enquanto se entrega a economia às raposas do mercado.** Se fintechs e fundos foram instrumentalizados para lavagem, é porque, por anos, houve espaço regulatório e conivência que favoreceram a financeirização da vida.
A operação também escancara uma contradição: a direita que prega “lei e ordem” e “livre mercado” só aparece para proteger interesses das elites — e some quando o assunto é responsabilizar seus comparsas nos negócios sujos. É por isso que denunciar o bolsonarismo e suas ramificações é urgente, mas não suficiente. Precisamos de uma política estatal forte, capaz de regular e controlar o sistema financeiro, sem vender ativos públicos e sem abrir espaço a privatizações que entregam instrumentos de controle ao setor privado.
A PF diz que “é uma questão de honra” cumprir todos os mandados. “É uma questão de honra. Não vamos desistir”, afirmou um dos agentes envolvidos. Esperamos que essa honra não se perca em meandros burocráticos ou em vazamentos que favoreçam criminosos poderosos. Que a investigação avance, que responda à sociedade e que não se limite a tirar o bode da sala sem desmontar o curral.
Este caso precisa ser usado como alavanca política: fortalecer os mecanismos de controle, endurecer a fiscalização sobre fintechs e fundos, e fazer as grandes fortunas pagarem pelo caos que muitas vezes ajudam a criar. Lula e o PT têm a responsabilidade histórica de transformar medidas pontuais em um projeto maior de reconstrução do setor público e regulação democrática do sistema financeiro — porque, sem isso, seguiremos apenas remendando as rachaduras enquanto o edifício do poder financeiro continua acumulando lucros e impunidade. Quem realmente quer mudar o país não pode ter medo de enfrentar os donos do mundo.