A Procuradoria-Geral da República denunciou ao Supremo Tribunal Federal o ex-assessor do Tribunal Superior Eleitoral Eduardo Tagliaferro por uma tamanha algazarra contra a própria democracia que até o manual da velha política golpista precisaria de atualização. Acusado de violação de sigilo funcional, coação no curso do processo, obstrução de investigação envolvendo organização criminosa e tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, Tagliaferro é apontado como peça ativa na máquina de desinformação que tentou desmontar a confiança nas urnas e enfraquecer o Judiciário — e tudo isso com a cara de pau de quem acha que a sua versão dos fatos passa por cima das instituições.
A PGR afirma que, enquanto ocupava a chefia da Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação do TSE, Tagliaferro vazou diálogos sigilosos com servidores do STF e do próprio TSE para a imprensa, beneficiando uma rede que disseminou mentiras sobre o sistema eletrônico de votação. O que estava em jogo não era um debate técnico: era a tentativa deliberada de descarrilar investigações e blindar uma organização que sonha com o fim da democracia em nome de seus próprios interesses. Nas redes, o ex-assessor se esforça para posar como mártir da “verdade”, enquanto recebe o aplauso caloroso dos bolsonaristas de sempre.
Vazamentos, fuga e arrecadação para a farsa
A denúncia descreve um roteiro conhecido: fornecer conteúdo sigiloso para alimentar narrativas falsas, obstruir apurações e, quando a casa cai, pegar o primeiro voo para o exterior em conluio com outros investigados. “Os elementos de que os autos estão referidos não deixam dúvida de que o denunciado, alinhado às condutas da organização criminosa responsável pela tentativa de golpe de Estado e abolição violenta do Estado Democrático de Direito, bem como à divulgação de informações falsas, revelou informações confidenciais…” — Gonet, representante da PGR. E como se não bastasse a fuga, veio o espetáculo da autocriação: no dia 30.07.2025, em solo estrangeiro, Tagliaferro anunciou que revelaria “novas informações funcionais sigilosas” e lançou campanha de arrecadação para financiar esse intento criminoso.
Não é teoria da conspiração — é estratégia. Financiar ataques ao Judiciário enquanto se exalta a desordem é o projeto político de quem quer substituir o debate democrático por um show de fake news e linchamento midiático. O Ministério Público não hesitou: para o MPF, a campanha e o anúncio público visam “tentar impedir e restringir o livre exercício do Poder Judiciário” e “incitar novos atos antidemocráticos e provocar disseminação de notícias falsas contra a Suprema Corte”. “O anúncio público recente… atende ao propósito da organização criminosa de tentar impedir e restringir o livre exercício do Poder Judiciário. Está clara a adesão ao objetivo de incitar novos atos antidemocráticos e provocar disseminação de notícias falsas contra a Suprema Corte” — Ministério Público Federal.
O mecanismo é velho, mas a ousadia é nova: infiltrar-se em órgãos estatais, manipular informação sigilosa e depois transformar a própria impunidade em produto de mercado, com vaquinhas e arrecadações via redes sociais. Para quem aplaude esse tipo de ação, a democracia é apenas um obstáculo técnico; para nós, que defendemos as estatais, o serviço público e o direito de votar sem intimidações, é uma agressão que precisa ser enfrentada com firmeza política e jurídica.
Agora cabe ao STF abrir prazo para defesa e decidir se transforma Tagliaferro em réu — e, uma vez mais, todo o país terá a chance de ver como o aparelho judicial reage quando a ofensiva golpista atinge diretamente suas entranhas. Essa é a hora de separar aliados de oportunistas: quem está com a direita autoritária deve ser desmascarado; quem quer avançar na construção de um projeto popular e soberano, como o que vêm sendo anunciado pela esquerda organizada e pelo PT, deve multiplicar a mobilização democrática.
A guerra política não é só de palavras: exige ação, organização e resistência. Lutemos para que a lei alcance os que tentam destruir a própria democracia para proteger interesses privados — e aproveitemos cada escândalo para articular uma frente que não apenas defenda o Estado democrático, mas avance na transformação social que o país precisa.