A Procuradoria-Geral da República pediu ao Supremo Tribunal Federal a condenação dos sete réus do chamado núcleo de desinformação ligado à trama golpista — e não é pouca coisa: trata-se de gente que usou a estrutura da Abin como se fosse uma oficina de mentiras para tentar desmontar a democracia e forjar o caminho de volta do capitão do caos ao poder. O relato da acusação revela o uso de aparato estatal para produzir conteúdo falso, monitorar adversários e alimentar um caldo tóxico de ódio que, no fim, explodiu nos atos vandálicos de 8 de janeiro. É a demonstração clara de que a direita radical não hesita em transformar instituições públicas em cabides de intrigas.
Quem são os réus
Os investigados, segundo a PGR, são militares e civis que se articularam para esse serviço sujo: Ailton Gonçalves Moraes Barros, Ângelo Martins Denicoli, Carlos César Moretzsohn Rocha, Giancarlo Gomes Rodrigues, Guilherme Marques de Almeida, Marcelo Araújo Bormevet e Reginaldo Vieira de Abreu. Nomes que agora aparecem na linha de frente de uma acusação que pode significar a responsabilização — finalmente! — daqueles que usaram o Estado para conspirar contra o próprio Estado de Direito.
Estrutura de contrainteligência
O parecer descreve o núcleo como uma “central de contrainteligência” da organização criminosa: recursos da Abin eram desviados para produzir materiais fraudulentos contra opositores e autoridades, distribuídos com perfis falsos ou cooptados para preservar os verdadeiros beneficiários políticos. Em bom português: a máquina pública virou agência de fakenews para blindar quem queria usurpar o poder. Não foi uma campanha espontânea na internet; foi um serviço sistemático e dentro do próprio aparelho estatal.
As investigações mostram que ministros do STF, parlamentares, servidores do Ibama e da Receita e vários jornalistas foram alvo de monitoramento. E o mais grave: esse núcleo ganhou musculatura quando Bolsonaro radicalizou o discurso, a partir de 2021 — ou seja, havia coordenação, direção e objetivo político claro. Quem duvida que a mentira deliberada é arma política tem olhos, mas não quer ver.
Ligação com o 8 de janeiro
Para a PGR, a máquina de desinformação foi combustível essencial para o levante que culminou na destruição dos prédios dos Três Poderes. “Essas ações propiciaram o nascimento e o crescimento do sentimento popular de desconfiança em face da estrutura vigente, criando o ambiente necessário para a ruptura institucional”, disse Paulo Gonet, procurador‑geral da República. Não é exagero: fabricar pânico e desconfiança foi o mapa para que baderneiros — alimentados pela farsa — saíssem às ruas para atacar a democracia.
Crimes imputados e próximos passos
A PGR pediu condenação pelos crimes de organização criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, tentativa de golpe de Estado, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado, além de indenização para reparar os prejuízos causados. Com a manifestação da acusação, as defesas têm 15 dias para apresentar as alegações finais; depois, a Primeira Turma do STF fará o julgamento, em data ainda a ser fixada. As defesas negam o envolvimento, como era de esperar — negar é reflexo da impunidade que essa turma sempre tentou cultivar.
A hora é agora: responsabilizar estes atores é parte indispensável para reconstruir a confiança nas instituições e impedir que as fabulações reacionárias voltem a usar o Estado como plataforma de destruição.
O processo contra o núcleo 4 não é apenas jurídico; é político e simbólico. Exigir justiça é impedir que a normalização da traição ao povo se transforme em rotina. A direita golpista precisa ser desmantelada, e quem quer um país soberano e com serviços públicos fortes — nós, os que acreditamos em estatais e políticas sociais — não pode vacilar. Defender a democracia é também fortalecer as pontes para um projeto popular que ataque as raízes do capitalismo predador e que transforme as derrotas da direita em oportunidades de avanço das lutas sociais. Quem imaginou que a trama ficaria impune terá de responder — e que essa resposta seja à altura do dano que fizeram ao país.