A Câmara segue sua rotina de circo: enquanto a população espera medidas que reduzam privilégios e ofereçam justiça, o Congresso se ocupa em negociar ibagens e em proteger os próprios donos do poder. Nesta terça (12), a bancada do PL anunciou que passará a obstruir os trabalhos em protesto porque o presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), não colocou na pauta a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que acaba com o foro privilegiado. Resultado? Mais noites perdidas do parlamento, mais cartas marcadas e mais impunidade à espera.
“Como não foi publicada a pauta do fim do foro, nós vamos obstruir”, disse Sóstenes Cavalcante (PL) ao g1. Traduzindo: se não colocarem suas vontades na mesa, atrapalham tudo. E por que esperamos honestidade política desses mesmos deputados que tentaram anistiar os que atacaram as instituições em 8 de janeiro? Hipocrisia que cheira a proteção mútua. Obstruir para forçar pauta? Não se trata de defesa da democracia, mas de preservação de privilégios!
Motta não pautou fim do foro
O presidente da Câmara optou por não incluir a PEC do fim do foro na agenda desta semana — decisão já sinalizada por lideranças. Em reunião matinal, PL e PP pressionaram pela votação; outros líderes consideraram que ainda não era o momento. O líder do PP, Dr. Luizinho, resumiu a farsa institucional ao dizer que a discussão é prematura e precisa de debate com as bancadas. “A discussão ainda é prematura e é preciso debater a proposta com as bancadas”, afirmou Dr. Luizinho (PP). Do lado do PT, Lindbergh Farias avisou que o assunto deve voltar à mesa na quinta (14). “A discussão sobre a análise da proposta deve ser retomada nesta quinta (14)”, disse Lindbergh Farias (PT).
A cena é repetida: negociações paralelas entre PP, PSD, Novo, PL e União Brasil para encerrar o motim — leia-se: para garantir que a casa volte a funcionar segundo a conveniência dos poderosos. Enquanto isso, o povo segue sem resposta sobre como acabar com privilégios que transformam ministros e parlamentares em cidadãos com duas leis — uma para os ricos e outra para o resto. O foro privilegiado é um escudo para parlamentares ricos e corruptos — hora de arrancá-lo do regime de exceção político!
Não nos deixemos enganar pela retórica de que a obstrução é regimental e pela teatral negação de acordos por parte de Motta. O que vemos é uma Câmara que decide quando quer debater a redução de privilégios: nunca é a hora, até que seja a hora que lhes favoreça. E quem paga a conta? A democracia, a confiança nas instituições e, claro, o povo que precisa de políticas públicas e empregos, não de batalhas por cargos e foro.
Para além do espetáculo, há politicagem com consequências reais. A tática da obstrução já foi utilizada pelo próprio PL em defesa da anistia aos que participaram das violências de 8 de janeiro — um histórico que deveria envergonhar qualquer defensor da lei. Não se trata de “procedimento”; trata-se de escolha moral: ficar do lado dos privilégios ou do lado da justiça social.
O desafio agora é para as forças populares: como transformar o clamor por justiça em pressão eficaz? O calendário que prevê debate na quinta é uma oportunidade — e também uma armadilha, porque o jogo dos bastidores pode adiar tudo de novo. O movimento socialista, os sindicatos, os movimentos sociais e a base do PT precisam manter a guarda alta e exigir a votação com transparência, sem recuos a favor dos poderosos. Só pressionando nas ruas e nas urnas é que vamos desmontar os aparelhos que protegem bilionários e corruptos.
O país precisa de medidas que defendam o interesse público — fim do foro, fortalecimento das estatais e políticas que tirem o Brasil da boca voraz do capital financeiro. Se a Câmara prefere obstruir em vez de votar, que saiba: vamos obstruir os planos deles nas próximas eleições! Quem pensa que pode empurrar a reforma democrática para o esquecimento descobrirá que a sociedade organizada não tem paciência para privilégios eternos.