A batalha pelos corredores do Congresso não é apenas mais uma sessão de costura política: é uma tentativa explícita de blindar golpistas e reescrever a impunidade para quem atentou contra a democracia. Nesta semana, a cúpula do PL pressiona para que o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), coloque em pauta ao menos a urgência do projeto de anistia — enquanto o próprio Motta aposta numa solução paralela: a redução de penas proposta por Davi Alcolumbre (União-AP) no Senado. O resultado desejado por esses acordos de bastidores? Evitar uma anistia ampla na Câmara, mas ainda assim livrar do ônus penal o núcleo duro do atentado de 8 de janeiro e outros envolvidos.
“Ele prometeu que esse seria o primeiro item da reunião de líderes desta terça, ele irá cumprir sua promessa. E temos o apoio da maior parte dos líderes para votar a urgência”, afirmou o líder da oposição, Luciano Zucco (PL-RS). A fala revela o cinismo: enquanto se exibe compromisso com procedimentos, o jogo é outro — costurar mecanismos que protejam aliados e conversem com interesses eleitorais e clientelistas.
Hugo Motta, segundo interlocutores, busca ganhar tempo. A estratégia é clara: priorizar um projeto do Senado que reduz penas de condenados pelo STF — abrangendo tanto o núcleo responsável pela tentativa de golpe quanto as massas manipuladas que invadiram e depredaram os prédios dos Três Poderes. Motta acredita que, se a proposta do Senado for aprovada primeiro, ela poderá sufocar ou desviar uma anistia ampla na Câmara. Em outras palavras, trocar o alcance por um cala-boca seletivo para os poderosos que precisam ser protegidos.
A direita tenta salvar seus corruptos com acordos sujos nas sombras do Congresso. Enquanto isso, o governo federal age com pressa pouco republicana: para formar maioria e derrotar uma eventual anistia que beneficiaria Bolsonaro, acelerou a liberação de emendas parlamentares — mais de R$ 2 bilhões à disposição dos deputados na semana passada. Essa política de compra de apoio é um velho truque, reciclado, de quem prefere trocar o futuro do país por vantagens imediatas e eleitorais.
Risco de impunidade e a resposta necessária
A cena que se desenha é perigosa. Reduzir penas ou colocar urgência para projetos que tratem de anistia é administrar a impunidade como se fosse técnica legislativa, quando na verdade é escolha política. Não se trata de discutir indultos abstratos: trata-se de decidir se aqueles que ameaçaram a República pagarão pelo que fizeram. O Congresso pode optar por proteger os instigadores do golpe ou pode optar por fortalecer a democracia com punições proporcionais e transparência.
O PT e as forças progressistas têm papel central nesse momento. Lula e a militância popular não são apenas alternativas eleitorais; devem ser protagonistas de uma etapa de resistência e reconstrução democrática. Não podemos deixar que acordos entre caciques partidários e presidentes de mesa transformem a Justiça em mercadoria. O governo, por mais que tente alinhar apoios com emendas, também precisa ouvir as ruas e a memória do 8 de janeiro, em vez de negociar anistias com quem fez do ódio e da desinformação uma arma.
Este jogo de bastidores é um ataque à democracia — e é hora de desmascará-lo. A mobilização social e política contra qualquer tentativa de anistia ou perdão seletivo é urgente. Advogar por estatais fortes, políticas públicas sociais e uma Justiça independente é parte da resistência contra a ofensiva conservadora que ainda tenta reescrever fatos.
A trama em Brasília é um lembrete: a cada acordo costurado longe dos olhos, a direita busca reerguer suas bases. Não podemos permitir que a impunidade volte a ser instrumento de reconstrução das elites autoritárias. É preciso pressão popular, organização partidária e ação coordenada para impedir que o Congresso transforme crimes contra a democracia em transação política. Só assim preservaremos as instituições e abriremos espaço para um projeto popular de transformação, que avance do simples combate ao bolsonarismo para um novo ciclo de luta anticapitalista no Brasil.