A ofensiva do PL no Supremo não é coincidência: é parte da agenda desesperada de um setor político que quer se manter acima da lei. Enquanto Bolsonaro cumpre prisão domiciliar, seus aliados no Congresso tentam, nos bastidores, impor mudanças que reduzam a investigação de crimes cometidos por autoridades. Não se trata apenas de uma manobra jurídica; é um ataque frontal ao princípio básico de que todos são iguais perante a Justiça.
O “pacote da paz” que ameaça a democracia
Integrantes do PL, partido de Jair Bolsonaro, chegaram ao STF com um projeto para alterar o foro privilegiado. Chamado ironicamente de “pacote da paz”, o texto prevê que processos contra autoridades – de parlamentares a ministros do Supremo – comecem nos Tribunais Regionais Federais (TRFs), passem pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) e só depois cheguem ao STF. Na prática, isso alongaria o tempo de tramitação e daria fôlego extra aos investigados, inclusive ao próprio Bolsonaro.
“Vocês estão vivendo num mundo fora do esquadro”, reagiu um ministro do STF ao ouvir os interlocutores do PL. A declaração escancara o desespero de quem tenta regredir decisões recentes da Corte, que asseguraram que crimes vinculados ao mandato permaneçam no STF mesmo após o fim do cargo. Mas os líderes do PL – como Sóstenes Cavalcante, Rogério Marinho e Valdemar Costa Neto – garantem que não vão recuar nem um centímetro.
A direita radical se agarra ao falso teatro da impunidade, fingindo que a mudança no foro é um ajuste técnico. Escondem o objetivo real: dificultar a investigação dos atos antidemocráticos de 8 de janeiro, quando militantes bolsonaristas atacaram prédios públicos em Brasília. Eles querem anistiar os próprios comparsas e esvaziar a responsabilização pelo crime político mais grave dos últimos tempos.
Contexto de prisão e chantagem política
A ofensiva coincide com a prisão domiciliar de Bolsonaro pelo ministro Alexandre de Moraes. Desde segunda-feira (4), o ex-presidente está proibido de receber visitas e teve seus celulares recolhidos. Essa medida veio após mais um descumprimento de medidas cautelares: no domingo (3), Flávio Bolsonaro publicou vídeo do pai em manifestações, ato interpretado pelo Supremo como instigação contra a Corte.
Em entrevista ao Estúdio i, Flávio admitiu a estratégia: “gesto prático”, defendeu Flávio Bolsonaro para sinalizar à Casa Branca e tentar reduzir sanções de Donald Trump. É inacreditável ver a família que se diz patriota usando a segurança nacional como moeda de troca. Enquanto isso, no Congresso, aliados de Bolsonaro obstruem votações e exigem a inclusão do projeto de anistia na pauta.
O cinismo bolsonarista atinge níveis inéditos. Eles pedem perdão para quem tentou derrubar o próprio estado democrático de direito! E ainda querem, como barganha política, uma anistia que crie impunidade seletiva. Se conseguirem, terão enviado um recado claro: quem ataca a democracia, ganha força política.
O presidente da Câmara e o do Senado já foram acionados, mas resistem por ora. A sociedade precisa ficar atenta: cada manobra no Congresso é uma tentativa de reescrever a história recente do país, minimizando a gravidade dos atos anti-constitucionais de janeiro e blindando a família Bolsonaro.
Esse episódio reafirma duas lições fundamentais: a primeira, que a Justiça não pode ceder a chantagens políticas. E a segunda, que a mobilização popular continua sendo o melhor remédio contra a escalada autoritária. Não bastam vozes solitárias; é preciso unir as forças democráticas em torno de um projeto de poder que não apenas freie a extrema direita, mas avance na construção de uma sociedade mais justa.
A hora é de pressão constante. O PL tenta emparedar o STF e o Congresso, mas encontra resistência crescente na opinião pública e nos movimentos sociais. Se não permitirmos que esses radicais transformem o foro privilegiado num bunker de impunidade, mostraremos que o poder real não está nas cortinas do Supremo, e sim nas ruas e nas urnas. A vigília democrática deve seguir firme, sem descanso, até que a corda dos golpistas se arrebente de vez.