No coração da Amazônia, a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30) surge como um teste decisivo: ou tiramos o discurso da sala de reunião e o levamos para a prática, ou continuaremos reféns de promessas vazias que só servem aos oligopólios globais. Se o Acordo de Paris é letra morta sem fiscalização e pressão popular, Belém pode ser o palco onde finalmente escancaramos a urgência de ações concretas, antes que o planeta vire um grande deserto.
Desafios e ajustes no multilateralismo
“O multilateralismo climático tem encontrado soluções, mas também enfrentado significativos desafios. Nós acreditamos que a COP30 vai ser uma ocasião muito particular de nós podermos ajustar a melhor maneira de usar esses instrumentos. E a melhor maneira de usar esses instrumentos é a ação, é a implementação”, declarou André Corrêa do Lago, presidente da conferência. Traduzindo: cansamos de ver acordos que só rendem tapinhas nas costas entre burocratas. Se não houver cobrança, não haverá resultado.
Enquanto isso, os responsáveis pelo derretimento das geleiras aplaudem a retirada do Acordo de Paris pelos Estados Unidos. Trump, aquele puxa-saco dos bilionários do carvão, alegou que “prejudicava a economia americana” — leia-se “protegemos nossos lucros à custa do resto do mundo”. Agora, faz pose de ausente seletivo, fingindo que o aquecimento global não existiu desde o Titanic.
Belém e a arte de resistir ao lobby hoteleiro
Não bastasse o avanço do mercado predatório, Belém enfrenta a fúria dos especuladores imobiliários que transformaram a cidade em aluguel de luxo de ocasião. Nas últimas semanas, embaixadores e parlamentares estrangeiros rogaram por outra sede, dando um show de hipocrisia: só percebem o valor da Amazônia quando lhes é cobrado em dólar.
O governo do Pará, finalmente acordando para a urgência, se reuniu com o setor hoteleiro e propôs a expansão de leitos e fiscalização de preços. Afinal, não dá para entregar a COP30 nas mãos de quem trata a hospitalidade como mercadoria de alto padrão, enquanto a floresta arde sem pagar diária.
“Queria reiterar a importância da presença em Belém, uma cidade incrível, com uma história extraordinária e que vai nos receber em novembro no pleno coração da Amazônia”, emendou Corrêa do Lago. Realmente, não há cenário mais emblemático para mostrar que os povos originários e ribeirinhos não aceitam ser coadjuvantes de um espetáculo de greenwashing.
Convite a Trump e o show de diplomacia
No meio dessa tempestade de interesses, Lula aparece com sua diplomacia de puxar orelha global. “Eu não vou ligar para o Trump para comercializar, porque ele não quer falar. Mas eu vou ligar para o Trump para convidá-lo para a COP, porque quero saber o que ele pensa da questão climática. Vou ligar pra ele, para o Xi Jinping, para o Modi. Só não vou ligar para o Putin, porque o Putin não está podendo viajar”, afirmou o presidente.
É o clássico “quem não quer vir, que dê desculpa”. Se Trump prefere boicotar a reunião, sofrerá o desgaste político de ser o único cara que, em plena crise climática, ignora o futuro do planeta. Não aceitamos neutralidade quando o combate ao aquecimento global é a luta por nossas próprias vidas.
Sob os holofotes do Senado e da Câmara, o Brasil mostra que não teme nenhum grande líder. Está pronto para cobrar metas mais duras, financiar transição justa e apoiar energias limpas. Não faltam recursos: basta desviar verbas dos esquemas de privatização e do agronegócio predatório para investir em pesquisa, restauração florestal e infraestrutura sustentável.
A COP30 em Belém não é mais um simpósio, mas uma encruzilhada histórica. Ou os países ricos largam as desculpas e financiam a defesa da Amazônia e das populações tradicionais, ou vão enfrentar um movimento global que não aceitará mais negociações intermináveis. A vida do planeta não admite conferências eternas: exige ações hoje, com firmeza política e mobilização popular.