A Câmara dos Deputados virou um teatro do absurdo: um grupo da extrema-direita apresenta um projeto de anistia que mais parece roteiro de ficção científica para salvar golpistas — presentes, passados e até os que possam nascer depois! Enquanto o país acompanha o julgamento de Jair Bolsonaro no Supremo, deputados do PL e seus aliados tentam rasgar a memória dos crimes contra a democracia e oferecer uma capa de invisibilidade para quem conspirou contra a Constituição. Isso não é amnistia: é conchavo com a impunidade.
Um projeto golpistinha do futuro
O texto ao qual tivemos acesso perdoa “a quem vier a ser investigado” por tentativa de golpe de Estado. Tradução simultânea: perdoa quem já fez, quem fez e quem um dia pensar em fazer. Ridículo? Escabroso? Sim — e por isso mesmo merece ser denunciado com todas as letras! É um projeto tão imoral que deveria vir com tarja preta e alerta: não recomendado para menores de 18 anos. Querem aliviar até mesmo a barra de quem participou do 8 de janeiro e, de quebra, blindar os mentores que ficaram nos gabinetes, nos palácios e nas mídias oligárquicas.
A hipocrisia é total: enquanto setores do establishment fingem defender “paz social”, o objetivo real é um só — impedir que os líderes do golpe respondam pelos seus crimes. Ao mesmo tempo, colocam uma fantasia benevolente de perdão para os “peões” e uma cortina de fumaça para proteger aqueles que orquestraram a violência a partir de cargos públicos. Não se trata de reparar a democracia; trata-se de varrer a sujeira para debaixo do tapete e garantir que o futuro seja um replay do passado golpista.
No Senado, ao menos, discute-se uma versão diferente — uma proposta que tenta, ainda que imperfeitamente, separar quem puxa os fios dos que apenas obedecem ordens. A ideia lá é endurecer penas para líderes e mensurar a dosimetria para os executores. Ainda que insuficiente para muitos de nós, essa distinção é um reconhecimento mínimo de que há níveis de responsabilidade. Mas não se iluda: a tentativa da Câmara de abrir uma anistia ampla é o avanço mais perigoso do bloco bolsonarista e seus aliados no Congresso.
Quem defende essa anistia? Figuras como o líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), têm pressionado por sua aprovação. Não é surpresa: é a velha costela autoritária que insiste em proteger seus e punir os que ousam lutar por democracia e direitos sociais. E como esperar justiça quando o parlamento se transforma em instrumento de salvação dos mesmos que promoveram o caos?
A batalha agora não é apenas jurídica — é política e simbólica. Permitir essa anistia seria um convite para que a extrema-direita repita tentativas futuras com a certeza da impunidade. Seria um recado claro: quem detém poder e recursos públicos pode ensaiar golpes sem pagar o preço. Isso ameaça não só a justiça, mas também a própria ideia de soberania popular substituída por acordos entre caciques e milicianos ideológicos.
É hora de ação! As forças progressistas, os movimentos sociais, o povo nas ruas e o governo que se coloca como defensor da democracia precisam fechar fileiras. Lula e o PT — que têm papel central na reconstrução de um projeto popular — não podem recuar diante dessa ofensiva reacionária. Defender as estatais, combatir privatizações e garantir que os responsáveis por atentados à democracia sejam julgados são tarefas urgentes para qualquer projeto que queira um Brasil digno e soberano.
A proposta de anistia da Câmara não é apenas um mau projeto de lei: é um ataque à memória, à justiça e ao futuro democrático do país. Se deixarmos que se transforme em norma, estaremos abrindo mão da possibilidade de aprender com o que aconteceu e de impedir novas investidas autoritárias. É preciso repudiar essa tramitação, mobilizar as ruas, pressionar parlamentares e o STF, e fazer com que a história não seja reescrita em favor dos canalhas. Quem tenta anistiar o golpe quer enterrar a democracia — e nós temos a obrigação de exumar a verdade e mantê-la viva.