Desde que a política virou ringue de previews eleitorais, o PT tem em mãos um instrumento subestimado: as inserções de TV. A peça de 30 segundos veiculada em 10 de setembro mostrou o caminho — colar Tarcísio de Freitas às agendas mais perigosas da direita (anistia, tarifaço, privatizações) é a jogada que pode transformar um governador em candidato vulnerável. Não é só marketing — é guerra política por votos e narrativa. Quem espera cortesia no campo adversário que acorde: aqui se desmonta projeto político, não se aceita maquiagem.
A estratégia e o recado
A primeira inserção do segundo semestre mirou certeiro: sem nomear diretamente, vinculou Tarcísio às práticas trumpistas e ao tal “tarifaço” que sufoca o povo paulista e favorece o lucro de quem já tem demais. Apontaram também o aumento de pedágios e a privatização como marcas desse modelo que quer vender as estatais e empurrar desemprego pra população. São Paulo foi o único estado em que o PT decidiu apontar o adversário — e por um motivo simples: aqui se decide muito do que vem pela frente em 2026.
“O governo federal trabalha para zerar o imposto de renda de quem ganha menos, faz obras estruturantes e negocia com o mundo para proteger empregos” — Partido dos Trabalhadores. A peça ainda usou o slogan direto: “PT em defesa do povo de São Paulo” — PT. Objetivo claro: mostrar contraste entre quem governa para as maiorias e quem governa para os lucros e para fora do país.
Não podemos permitir que o governador que aplaude privatizações saia ileso. O PT tem direito a 40 inserções neste semestre — 20 minutos no total — tempo suficiente para repetir a mensagem e aprofundar a narrativa. A ideia interna é repetir a peça já testada e produzir novas inserções na mesma toada, agora amarrando o nome do governador à pauta da anistia e à impunidade de criminosos. Se Tarcísio acha que pode fugir do debate duro porque é elegante nas entrevistas, que se prepare: a política não é tapete vermelho.
“Tarcísio se coloca como alvo ao abandonar a cadeira de governador para assumir a função de candidato” — um aliado de Lula. Essa é a leitura prática do PT: ele virou candidato ao decidir se lançar, e candidato se ataca. Segundo esse aliado, a inserção conseguiu ao mesmo tempo marcar uma oposição firme a Tarcísio e defender o governo Lula — uma cartada que, se repetida com contundência, pode minar a imagem de novidade que ele tenta vender.
Do outro lado, o Palácio dos Bandeirantes faz o que sempre fazem: minimizar. “Não gerou a repercussão esperada pelo PT” — fontes do Palácio dos Bandeirantes. Traduzindo: fingem indiferença até que a narrativa vire manchete e eles precisem reagir realmente. Enquanto isso, o Republicanos já não tem inserções e o PL usou seu tempo para exibir Tarcísio ao lado de André do Prado, ecoando o bordão do governo: “São Paulo avançando na direção certa” — PL.
As urnas mostram que a batalha tem caminho: pesquisa Quaest divulgada dia 18 indica Lula na frente em todos os cenários; num embate direto, Lula tem 35% contra 17% de Tarcísio no primeiro turno, e 43% a 35% no segundo. Esses números não garantem vitória, mas mostram que a narrativa do PT precisa ser ampliada, não recuada.
“Vou tentar a reeleição” — Tarcísio de Freitas. É esse o dilema: se ele insiste em virar candidato com a bandeira da privatização e do arrocho, o PT deve responder à altura, com denúncia, proposta e mobilização. O PT precisa bater mais forte, mostrar que a escolha é entre trabalho e esmola do bolsonarismo. Mais do que estrategemas eleitorais, trata-se de disputar futuro: quem vai proteger empregos, estatais e serviços públicos — ou quem vai entregar o Estado aos interesses dos bilionários e das corporações? A luta nas inserções é só o início; é hora de transformar televisão em trincheira narrativa e política.