A decisão que afastou Eduardo Bolsonaro da liderança da minoria na Câmara veio envolta em justificativas “técnicas” — exatamente o tipo de eufemismo que a direita adora para maquiar manobra política. Motta defendeu a medida como “estritamente técnica”, mas quem acompanha os bastidores sabe que neste Congresso as “técnicas” são apenas capas para interesses e ajustes de poder. O fato é que a escolha do relator do processo de cassação de Eduardo promete ser mais um capítulo desse teatro onde o centrão e os bolsonaristas tentam salvar o que resta da família do capitão.
O nome que aparece com força para relator é o do deputado Delegado Marcelo Freitas (União-MG), sorteado entre três parlamentares que compõem a lista tríplice. Além de Freitas, foram sorteados Duda Salabert (PDT-MG) e Paulo Lemos (PSOL-AP). A palavra final, porém, caberá ao presidente do Conselho de Ética, Fábio Schiochet (União-SC), que deve anunciar a decisão em breve. Não é pouca coisa: escolher quem vai relatar um processo de cassação é escolher o ritmo e o tom do debate.
A escolha de Freitas preocupa quem quer transparência. Ele tem histórico de posições alinhadas ao bolsonarismo: já defendeu uma anistia ampla, geral e irrestrita e tem sido crítico ferrenho do Supremo. Sobre o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, Freitas afirmou que se tratava de uma análise “de cartas marcadas” e declarou preocupação com a “parcialidade” da 1ª Turma, posicionamentos que lançam dúvidas sobre sua imparcialidade no caso de Eduardo. Para quem acredita num processo sério, é um sinal vermelho piscando.
A exclusão de Paulo Lemos como opção possível de relatoria, segundo interlocutores de Schiochet, se deu porque sua filiação ao PSOL poderia demonstrar um posicionamento pré-concebido contra Eduardo — o que, em tese, colocaria em cheque a neutralidade. Já Duda Salabert viu suas chances serem complicadas por um vídeo que gravou após o sorteio, quando fez duras menções ao histórico de ataques que sofreu. “Para quem não sabe, há seis anos, quando eu lancei minha candidatura ao Senado, o próprio Eduardo Bolsonaro compartilhou nas suas redes sociais um discurso de ódio contra mim”, disse Duda, lembrando que a atuação de bolsonaristas levou à sua demissão da escola onde trabalhava. Esse relato expõe a dimensão pessoal que ronda esse processo — e por isso, claro, a direita e seus cúmplices tentam reduzir o debate a tecnicalidades.
Schiochet, por sua vez, sinalizou que pediu à Mesa Diretora que as quatro representações contra Eduardo tramitem juntas, por apensamento. “Solicitei à Mesa Diretora que as representações sejam apensadas”, afirmou o presidente do Conselho, o que abriria espaço para novo sorteio caso o pedido seja autorizado. Ou seja: a manobra para controlar o encaminhamento do caso ainda está em curso. Enquanto isso, Eduardo Bolsonaro segue usando seu mandato como trampolim para campanhas e agressões institucionais.
Além do processo que investiga ataques ao STF e ameaças às eleições de 2026, há três representações que apuram a atuação de Eduardo em atos para influenciar o governo norte-americano a aplicar sanções contra o Brasil — tema gravíssimo que envolve soberania e segurança nacional. O blog procurou Marcelo Freitas para comentar, mas não obteve retorno até a publicação.
Se o objetivo real é despolitizar, estamos vendo o contrário: toda essa “técnica” revela justamente o quão político é o processo. A direita tenta blindar seus quadros com artifícios; nós, do campo popular, precisamos denunciar a falsidade e pressionar por investigação eficaz e independente. Não se trata só de cassar ou poupar um deputado — trata-se de defender as instituições democráticas e frear a escalada autoritária que Eduardo representa. Se querem transformar o Conselho em jogo de cartas, que saibam: nós vamos baralhar as peças em praça pública.