O leilão do túnel Santos-Guarujá na B3, em São Paulo, virou palco — como se fosse preciso drama extra — para mostrar que a direita não desistiu de afinar sua orquestração política e moral. Enquanto o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) representava o presidente Lula e batia o martelo do certame, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e o ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho (também Republicanos), circularam como quem busca protagonismo e costura interesses: um empurra a anistia, outro diz que votaria contra mas já sugere “ajustes”. A peça é clara: espetáculo de unidade, mas com roteiro escrito pelas mãos conservadoras.
Anistia, modulação e a velha cantilena da “mediação”
Silvio Costa Filho deu a declaração que resume o jogo: “Não é momento de debater esse tema. Temos que avançar com Imposto de Renda, reforma administrativa” – Silvio Costa Filho. E logo em seguida já emendou a famosa saída conciliatória dos farsantes: “O que temos é que discutir com seriedade a tipificação das penas. Não dá para um cidadão que foi levado ao erro em algum momento por um processo de invasão pegar pena de 10, 12 anos.” – Silvio Costa Filho. Tradução: não apoio anistia integral, mas vamos transformar a punição em um acorde menor — menos punição, mais impunidade. Quem acredita que esse tipo de “modulação” não é um primeiro passo para suavizar crimes políticos está sendo ingênuo ou cúmplice.
Enquanto isso, Tarcísio corre atrás de articulação para enterrar a responsabilidade política pelos ataques de 8 de janeiro. O governador viajou a Brasília, mexeu os bastidores e colocou seu partido no centro da ofensiva pela anistia. Não é coincidência que o ministro, do mesmo partido, apareça em tom conciliador no leilão — uma mão lava a outra na política das aparências.
Ao anunciar o vencedor do leilão, Silvio chamou Tarcísio e Alckmin para bater o martelo juntos e, em tom solene, afirmou que “diferenças constroem as convergências” e que se tratava de um “simbolismo muito importante para o país”. “Diferenças constroem as convergências” – Silvio Costa Filho. É curioso: convergência entre quem? Entre quem almeja encobrir crimes antidemocráticos e quem representa o Executivo num evento público? Simbolismo para o país ou para a conveniência política de alguns? O cheiro de maquiagem institucional é forte.
Não nos enganemos com o verniz do “diálogo”! A direita sempre usa a palavra “moderação” para empurrar retrocessos: privatizações, enfraquecimento das estatais, proteção dos ricos e perdão aos que tentaram desestabilizar a democracia! Nós, do campo popular, sabemos que anistia para golpistas é como tirar a placa de “perigo” de uma ponte rachada: permissividade que incentiva novos crimes.
O ponto crucial não é só jurídico, é político: aceitar anistia é aceitar que o ataque a instituições fique sem custo e que a democracia seja bater ponto — mas sem consequente transformação social. Lula e o PT não são apenas alternativas eleitorais; para quem quer levar a luta anticapitalista adiante, eles podem e devem ser âncoras de um projeto que termine com o entreguismo e proteja o Estado contra os predadores privados. Exigir punição adequada aos responsáveis por atos golpistas é parte desse projeto de reconstrução democrática.
Quem acha que o Congresso tem “coisas mais importantes” — como disse o ministro — deve se lembrar que sem justiça e responsabilização não há condições mínimas de avanço democrático e social. Avançar no imposto de renda e na reforma administrativa é urgente, sim, mas não à custa de varrer para baixo do tapete a tentativa de golpe!
O leilão mostrou duas coisas: o governo precisa afirmar claramente que não haverá anistia para quem tentou desmontar a democracia; e o povo precisa pressionar, porque a direita continuará a tentar costurar impunidade com “simbolismos” e apertos de mão. Vai ficar tudo igual? Ou vamos impedir que a impunidade seja a norma? A hora de mobilizar é agora!